sexta-feira, 29 de junho de 2018

Incidência de depressão no campo aumenta e exige articulação dos municípios

Incidência de depressão no campo aumenta e exige articulação dos municípios
Doença era vista mais como urbana do que rural

Ao mesmo tempo em que vivem num espaço tido como idílico, sobretudo pelas poesias e canções de quem migrou para as cidades, os moradores do campo também sofrem com o isolamento, falta de perspectivas, imprevisibilidade decorrente da sujeição dos negócios aos caprichos do clima, endividamento e cansaço em razão de uma atividade muitas vezes iniciada na infância. Essas condições, muitas vezes, se tornam gatilhos para o desencadeamento de crises depressivas, algo que no imaginário popular era visto como tipicamente urbano.
Essa visão vem sendo modificada há bastante tempo por estudos médicos e acadêmicos. Um dos mais recentes, a dissertação de mestrado “Depressão de Moradores na Zona Rural de Uma Cidade de Porte Médio no Sul do Brasil”, defendida em 2016 pela pesquisadora Roberta Hirschmann na Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), propõe que se deixe de olhar o campo como uma zona de total tranquilidade e se passe a encarar a depressão como uma doença que cresce na zona rural.
Em seus estudos, Roberta enfocou a região de Pelotas, terceiro maior centro populacional do Rio Grande do Sul, com 300 mil habitantes, dos quais 22 mil na zona rural. A pesquisa, que ouviu 1,5 mil pessoas, apontou que 35,6% dos entrevistados sofriam de sintomas depressivos, com predominância na faixa etária dos 40 aos 49 anos (29% dos casos), quando o indivíduo está com plena capacidade produtiva. Em segundo lugar, apareceu a faixa dos 50 aos 59 anos (22%), seguida pela dos jovens dos 18 aos 29 anos (19%) e dos adultos de 30 a 39 anos (18%). Acima dos 60 anos, a taxa cai para 13%, o que, segundo a pesquisadora, indica uma melhor adaptação dos idosos ao ritmo do campo e à vida local.
Embora os quadros de depressão ainda predominem entre a população urbana, mais sujeita a desequilíbrios trazidos por questões como o desemprego e a violência, nas comunidades rurais os casos aumentam e demandam atenção dos municípios. Em 2013, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do IBGE apontava um contingente de 11,2 milhões de adultos acima de 18 anos deprimidos no país, correspondentes a 7,6% do total de brasileiros nesta faixa etária. A pesquisa, que não tem detalhamento regional, concluiu que 8% dos adultos moradores de áreas urbanas apresentavam sintomas depressivos, contra 5,6% de moradores na zona rural.
http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/Rural/2018/06/652830/Incidencia-de-depressao-no-campo-aumenta-e-exige-articulacao-dos-municipios