segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O que a história tem a dizer sobre Jesus

Pesquisas de historiadores ajudam a confirmar que, de fato, Jesus caminhou sobre a região da Galileia há 2.000 anos. As descobertas, no entanto, não devem satisfazer aqueles que levam a Bíblia ao pé da letra

Guilherme Rosa
Jesus Cristo
Ao longo dos séculos, Jesus foi interpretado de maneiras diversas por religiosos, artistas e governantes. O trabalho dos historiadores é deixar toda essa carga teológica para trás e encontrar o homem e a mensagem que deu origem a tudo(Reprodução)
O pesquisador americano Joseph Atwill é categórico: Jesus não passa de um mito. O personagem, suas palavras e ações fazem parte de uma elaborada narrativa inventada por aristocratas romanos, com o objetivo de pacificar os judeus — um povo envolvido em sucessivas rebeliões contra o império. Atwill apresentou suas ideias em outubro, numa conferência realizada em Londres, na Inglaterra. "Os romanos perceberam que o melhor caminho para acabar com a atividade missionária fervorosa entre os judeus era criar um sistema de crenças que competisse com o deles", afirmou.
Joseph Atwill não é um acadêmico da área — sua formação é em ciências da computação. Ele não publicou suas pesquisas em periódicos científicos e suas ideias estão longe de ser apoiadas por seus pares. No entanto, sua teoria recebeu atenção mundial, e foi debatida entre pesquisadores, jornalistas e religiosos. Seu poder está no fato de ela ser o capítulo mais novo de uma antiga discussão — com quase 2.000 anos de idade — sobre qual é a verdade por trás de Jesus, seus feitos, milagres e mensagem.

Para Atwill, a ideia de que Jesus não passaria de uma montagem histórica deveria funcionar como um duro golpe aplicado pela ciência contra a ignorância propagada pela religião. "Embora o cristianismo possa ser um conforto para alguns, ele também pode ser muito prejudicial e repressivo, uma forma insidiosa de controle mental que levou à aceitação cega da servidão, pobreza e guerra ao longo da história", diz. Seu erro é que a existência de Jesus não é mais uma questão de fé, mas de ciência.

Os acadêmicos da área — historiadores das mais prestigiadas universidades do mundo — afirmam restar poucas dúvidas sobre a questão. "Volta e meia aparecem essas hipóteses sobre Jesus ser um mito. Mas, do ponto de vista metodológico, parece bastante claro que ele realmente existiu", diz André Chevitarese, professor do Instituto de História da UFRJ e autor dos livros Jesus Histórico - Uma Brevíssima Introdução e Cristianismos: Questões e Debates Metodológicos (Editora Kline), em entrevista ao site de VEJA.
Jesus histórico — Os historiadores deixam claro que o personagem estudado por eles não é o mesmo da religião. Eles estão em busca de informações sobre o homem chamado Jesus, que viveu na Galileia há 2.000 anos e em torno do qual foi criada a maior religião do mundo. “Os historiadores não buscam um ser divino, que é impossível de quantificar, medir e avaliar. O Jesus da história é estritamente humano“, afirma Chevitarese.

Nessa busca pelo Jesus histórico, a perspectiva dos pesquisadores lembra a de São Tomé, o apóstolo que duvidou de Cristo e exigiu provas de sua ressurreição. Do mesmo modo, os historiadores não podem acreditar cegamente no que dizem as religiões e seus líderes, mas devem embasar tudo que afirmam em evidências. Essas provas não precisam ser, necessariamente, físicas, como a descoberta de uma ossada ou um túmulo. "Se esse critério fosse adotado, 95% dos personagens históricos não seriam reconhecidos", diz o pesquisador.

Hoje, o critério mais importante que os pesquisadores possuem para atestar a existência de Jesus é o da múltipla confirmação: autores diferentes, que nunca se conheceram, afirmam fatos semelhantes sobre o personagem.

Os textos mais antigos sobre Jesus datam do século I, em sua maioria escritos por seguidores do cristianismo. A exceção é Flávio Josefo, um historiador judeu que tentou escrever toda a história do povo judaico, desde o Gênesis até sua época. Ele cita Jesus, João Batista e Tiago (irmão de Jesus) como exemplos de homens que lideraram movimentos messiânicos na região da Galileia.

No século seguinte, surgem mais textos de historiadores que citam Jesus e, principalmente, o movimento iniciado por seus seguidores. "Esses dados servem para mostrar que não estamos no campo da mitologia. São autores judeus e romanos, que nunca se tornaram cristãos, e permitem afirmar de modo muito seguro que Jesus é um personagem histórico."

O homem — A esses textos se somam descobertas recentes da arqueologia que fornecem informações precisas sobre o tempo e o espaço em que Jesus viveu. Os dados não são abundantes, mas permitem esboçar como se pareceria esse personagem histórico real. "Não podemos afirmar exatamente a cor de pele e cabelo de Jesus. A partir dos mosaicos e dos afrescos que retratam outros romanos, judeus e sírios que viviam no mesmo ambiente, a tendência maior é de vermos um Jesus de cabelos preto, com a pele queimada por causa de sol", diz Chevitarese.
Segundo a maior parte dos historiadores, Jesus não nasceu em Belém, como afirmam algumas passagens bíblicas, mas em Nazaré — uma pequena aldeia montanhosa da Galileia, cuja população era camponesa e girava em torno de 500 indivíduos. "A aldeia não tinha nenhuma relevância política, não possuía construções públicas ou sinagogas. Os escritores dos Evangelhos mudaram o lugar por razões teológicas, para que o nascimento de Cristo confirmasse algumas profecias do Antigo Testamento."

Jesus teria nascido na pequena vila em torno do ano 4 A.C., e teria passado a maior parte de sua vida na região, sem nunca pisar em uma cidade grande. A exceção acontece quando ele entra em Jerusalém — ato que teria como consequência sua crucificação pelas autoridades romanas. Sua morte deve ter acontecido por volta dos anos 35 e 36 D.C., pouco tempo depois de João Batista também ter sido morto pelos romanos, segundo a narrativa de Flávio Josefo.
A mensagem — Segundo os historiadores, tão importante quanto quem era Jesus é o que ele dizia — foi sua mensagem poderosa que repercutiu em todo o mundo e, séculos mais tarde, deu origem às diversas vertentes religiosas. "Ele era um camponês pobre que, diante das injustiças que o mundo apresentava, defendia a instauração do Reino de Deus — um reino de justiça e fartura, sem hierarquias sociais", diz Chevitarese.

A mensagem espiritual — e messiânica— de Jesus era voltada especialmente aos judeus de seu tempo. Ela, no entanto, adquiria caráter político ao afrontar o Império Romano e setores da elite judaica. Foi justamente a força dessa mensagem, e os rebanhos que ela poderia angariar, que levaram à sua crucificação e morte. Como aconteceu muitas vezes na história, no entanto, o assassinato de Jesus não conseguiu matar suas ideias.
Jesus teológico — Jesus nunca chegou a colocar suas ideias no papel (nem poderia, os historiadores afirmam que ele era analfabeto). A maior parte do que chega aos dias de hoje sobre o personagem e suas ideias foi escrito por seguidores das primeiras comunidades cristãs, duas ou três gerações depois de sua morte. Os autores não estão preocupados em transmitir uma versão fiel dos fatos, como uma biografia, mas em defender os pressupostos de sua fé. Assim, os primeiros cristãos que escrevem sobre Jesus — os evangelistas — já não estão fazendo história, mas teologia.

Nessa época o cristianismo começava a se distanciar do judaísmo em que ele estava originalmente inserido, e a se aproximar do Império Romano — o que exigiu algumas mudanças em sua mensagem. "Ao serem escritas, suas ideias começam a ser diluídas, pois vários filtros são impostos. Primeiro, Jesus é um indivíduo de fala aramaica, mas quase tudo que conhecemos sobre ele está escrito em grego. Além disso, os textos são destinados a convencer um público urbano, muito diferente dos camponeses para quem Jesus pregava", diz Chevitarese.

Com o passar dos séculos, isso abriu margem para que vários teólogos interpretassem as escrituras de maneiras variadas, criando as inúmeras vertentes do cristianismo que se encontram nos dias de hoje. Assim, a depender de quem faz a homilia, Jesus pode ser visto como um personagem sagrado ou humano, santo ou falho, foco de paz ou de guerra, de fundamentalismo ou de liberdade.

É por isso que o estudo do Jesus histórico é importante. "Ele pode ajudar a colocar um freio naqueles que querem transformar pressupostos teológicos em verdades históricas", diz Chevitarese. Seu objetivo não é acabar com a teologia ou retirar da história de Jesus seu caráter espiritual. O que a ciência faz é descobrir o que, de fato, pode ser afirmado sobre o homem e sua época. As muitas lacunas que permanecerão abertas apresentam mistérios suficientes para que a religião possa se instalar. 

Oito perguntas e respostas sobre o Jesus histórico

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Os autores dos Evangelhos conheceram Jesus?


A maior parte dos historiadores concorda que nenhum dos evangelistas foi testemunha ocular da vida de Jesus. Os Evangelhos, na verdade, faziam parte de uma grande variedade de textos que circulavam nos primeiros séculos depois de Cristo e representavam o que algumas das comunidades cristãs pensavam (os Evangelhos que foram deixados de lado pela tradição católica se tornaram conhecidos como apócrifos).
Os textos têm autoria anônima, e os pesquisadores possuem poucas informações sobre sua exata origem geográfica. O que se sabe é que eles foram criados a partir de relatos, memórias, tradições e textos mais antigos, que circulavam entre as primeiras comunidades cristãs. Eles teriam sido escritos entre o ano 60 e o 120, e só no século II é que seus autores foram atribuídos — o primeiro Evangelho a Marcos, e o último a João.

Com o passar dos séculos — e com a ortodoxia cristã tendo relações cada vez mais próximas ao Império Romano — surgiu a preocupação de delimitar exatamente quais os textos que guardavam a memória verdadeira sobre Jesus. Por volta do século IV, depois de sérias disputas teológicas, a Igreja finalmente escolheu quais haviam sido inspirados por Deus — criando o cânone do Novo Testamento. "Decidiu-se assim quais textos seria destruídos e quais preservados, e quais tradições cristãs seriam perseguidas e quais aceitas pela Igreja", diz André Chevitarese, professor do Instituto de História da UFRJ e autor dos livros "Jesus Histórico - Uma Brevíssima Introdução" e "Cristianismos: Questões e Debates Metodológicos" (Editora Kline), em entrevista ao site de VEJA.

Dentre os textos do Novo Testamento, aqueles que os historiadores atribuem, de fato, a alguém que conviveu com Jesus são as encíclicas escritas por Paulo — pelo menos sete delas teriam sido ditadas pelo apóstolo. "Na forma como o Novo Testamento está organizado, os quatro Evangelhos aparecem antes dos textos de Paulo. No entanto, as encíclicas foram escritas primeiro. O pesquisador tem de começar a ler por elas — assim fica mais fácil entender a evolução das primeiras comunidades cristãs."

sábado, 21 de dezembro de 2013

O machismo e a mulher brasileira

Mulher brasileira é vítima de seu próprio machismo, diz historiadora

Atualizado em  7 de outubro, 2013 - 06:45 (Brasília) 09:45 GMT
Mary Del Priore (Foto: Divulgação)
'Quanto mais educação, mais transparente e igualitária é a relação', diz Mary Del Priore
Mary Del Priore é historiadora, professora universitária e autora de obras como História das Mulheres no Brasil (ed. Contexto), vencedor dos prêmios Jabuti e Casa Grande e Senzala, e Histórias e Conversas de Mulher (ed. Planeta), em que acompanha avanços femininos desde o século 18.
Para a historiadora, as mulheres brasileiras do último século conquistaram o direito de votar, tomar anticoncepcionais, usar biquíni e a independência profissional. Mas ainda hoje são vítimas de seu próprio machismo.
Série da BBC aborda anseios e conquistas das mulheres atuais
Muitas mulheres "não conseguem se ver fora da órbita do homem" e são dependentes da aprovação e do desejo masculino, opina ela.
BBC Brasil - Você vê traços de machismo ou preconceito em seus ambientes profissional e pessoal?
Mary Del Priore - No ambiente profissional, não vivi nenhum problema, porque desde os anos 1980 o setor acadêmico sofreu grande "feminilização". As mulheres formam um bloco consistente nas disciplinas (universitárias) mais diversas.
"O fato de que elas busquem se realizar resgatando o trabalho doméstico, manual ou artesanal é uma prova de que a singularidade feminina tem muito a oferecer. A mulher pode, sim, realizar-se através do trabalho doméstico e não necessariamente no público"
Mas, na sociedade, acho que o machismo no Brasil se deve muito às mulheres. São elas as transmissoras dos piores preconceitos. Na vida pública, elas têm um comportamento liberal, competitivo e aparentemente tolerante. Mas em casa, na vida privada, muitas não gostam que o marido lave a louça; se o filho leva um fora da namorada, a culpa é da menina; e ela própria gosta de ser chamada de tudo o que é comestível, como gostosa e docinho, compra revistas femininas que prometem emagrecimento rápido e formas de conquistar todos os homens do quarteirão.
O que mais vemos, sobretudo nas classes menos educadas, é o machismo das nossas mulheres.
BBC Brasil - Mas muitas até querem que os maridos ajudem em casa, mas será que essas coisas do dia a dia acabam virando motivos de brigas justamente por conta do machismo arraigado? E também há mulheres estudadas, ambiciosas e fortes - mas também vaidosas, que ao mesmo tempo querem se sentir desejadas por um parceiro/a que as respeite. Isso é uma conquista delas, não?
Del Priore - Ambas as questões não podem ter respostas generalizantes. Mais e mais, há maridos interessados na gerência da vida privada e na educação dos filhos. Quantos homens não vemos empurrando carrinhos de bebê, fazendo cursos de preparação de parto junto com a futura mamãe ou no supermercado? Tudo depende do nível educacional de ambos os parceiros. Quanto mais informação e mais educação, mais transparente e igualitária é a relação.
Quanto às mulheres emancipadas, penso que preferem estar sós do que mal acompanhadas. Chega de querer "ter um homem só para chamar de seu". Elas estão mais seletivas e não desejam um parceiro que queira substituir a mãe por uma esposa.
BBC Brasil - Como a mulher mudou – e o que permanece igual – no último século?
"Na vida privada, muitas se revelam não só machistas mas racistas e homofóbicas. Muitas não gostam que o marido lave a louça; se o filho leva um fora da namorada a culpa é da menina, ela própria gosta de ser chamada de tudo o que é comestível, como gostosa e docinho, compra revistas femininas que prometem emagrecimento rápido e formas de conquistar todos os homens do quarteirão"
Del Priore - Temos uma grande ruptura nos anos 60 e 70 no Brasil, que reproduz as rupturas internacionais, com a chegada da pílula anticoncepcional. As mulheres começaram a ocupar postos nos diversos níveis da sociedade, a ganhar liberdade sexual e financeira. Ela passa atuar como propulsora de grandes mudanças. Quebra-se o paradigma entre a mulher da casa e a mulher da rua.
(Mas) a mulher continua se vendo através do olhar do homem. Ela quer ser essa isca apetitosa e acaba reproduzindo alguns comportamentos das suas avós. Basta olhar algumas revistas femininas hoje. Salvo algumas transformações, a impressão é de que a gente está lendo as revistas da época das nossas avós.
A mulher não consegue se ver fora da órbita do homem, diferentemente de algumas mulheres europeias, que são muito emancipadas. O que ela quer é continuar sendo uma presa desejada.
A (antropóloga) Mirian Goldenberg diz que a mulher brasileira continua correndo atrás do casamento como uma forma de realização pessoal. No topo da agenda dela não está se realizar profissionalmente, fazer o que gosta, viajar, conhecer o mundo – está encontrar um par e botar uma aliança no dedo. Mesmo que o casamento dure uma semana.
Quais as amarras das mulheres atuais?
Del Priore - O machismo é uma das questões. Outra, que talvez explique a inatividade da mulher frente a esse padrão, é que, com a entrada num mercado de trabalho tão competitivo, com tantas crises econômicas e uma classe média achatada, a luta pela sobrevivência se impõe sobre qualquer outro projeto.
Essa falta de tempo para respirar, o fato de ter que bancar filhos ou netos, isso talvez não dê à mulher tempo para se conscientizar e se erguer acima do individualismo – outra tônica do nosso tempo – e pensar no coletivo.
BBC Brasil - Ao mesmo tempo em que a mulher avança no mercado de trabalho, algumas também têm perdido a vergonha de parar de trabalhar para cuidar dos filhos; ou resgatado, como hobbies ou profissão, antigas "tarefas de mulher", como tricô, cozinha, artes manuais. Desse ponto de vista, existe um poder maior de escolha das mulheres?
Del Priore- Sempre apostei que as mulheres não deveriam buscar ser "um homem de saias", mas apostar em sua diferença e singularidade. As marcas do gênero, segundo sociólogos, são a criatividade, a diplomacia, capacidade de dialogar, etc. O fato de que elas busquem se realizar resgatando o trabalho doméstico, manual ou artesanal é uma prova de que a singularidade feminina tem muito a oferecer.
A mulher pode, sim, realizar-se através do trabalho doméstico e não necessariamente no público. Desse ponto de vista elas só estariam dando continuidade a uma longa tradição, discreta e oculta, que é a independência adquirida por meio de atividades desenvolvidas no lar. Nossas avós, quando trabalhadoras domésticas, já conheceram essa situação. A tecnologia só nos ajuda a torná-lo mais eficiente.
BBC Brasil - Que papel a educação teve na mulher que você é hoje?
"Hoje o grande desafio, em qualquer idade, é o equilíbrio interior, estar bem consigo mesma. Quando começamos a envelhecer – o que é o meu caso, aos 61 anos –, é preciso olhar isso com coragem, ver isso como um investimento positivo"
Del Priore - Tive uma trajetória peculiar. Resolvi fazer universidade (aos 28 anos) quando já era mãe de três filhos. A maturidade me ajudou muito a progredir. Tive a sorte de ter na PUC-RJ e na USP um ambiente muito receptivo, porque era um momento em que a universidade estava largando aquela camisa de força marxista e se abrindo para estudos de cultura e sociedade, que me interessavam.
BBC Brasil - Quais os principais desafios que você enfrenta como mulher?
Del Priore - Hoje o grande desafio, em qualquer idade, é o equilíbrio interior, estar bem consigo mesma. Quando começamos a envelhecer – o que é o meu caso, aos 61 anos –, é preciso olhar isso com coragem, ver isso como um investimento positivo. E ter tempo para a família, para as pessoas em volta da gente.
Quando era mais jovem, eu me preocupava muito com grandes projetos. Hoje me preocupo com o pequeno – acho que é por aí que você muda a realidade. É no dia a dia, na maneira como você trata as pessoas à sua volta, no respeito que você tem pelo seu bairro. Não temos condições de abraçar o mundo. Através do micro, a gente consegue aos poucos transformar o macro.
Essa entrevista faz parte da série "100 Mulheres - Vozes de Meio Mundo". A série, publicada globalmente pela BBC, trata dos desafios da mulher contemporânea.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Cubanos trazem uma nova forma de fazer Medicina

Médicos fazem exames e surpreendem pacientes e profissionais

CHRISTINA NASCIMENTO
Rio - É quase impossível não estranhar quando se ouve de Julio Cesar Nunez Naranjo, 46 anos, o valor que recebe por mês em Cuba. “Cerca de 30 dólares (quase R$ 70). É uma boa remuneração”, diz o médico, em um compreensível ‘portunhol’, após atender uma mãe e um bebê no Centro Municipal de Saúde de Vila do Céu, em Campo Grande. Mas a relação com o dinheiro não é a única diferença na comparação com os médicos brasileiros.
A chegada dele à unidade já provocou mudança no comportamento de outros profissionais. E a explicação está na formação acadêmica: a medicina cubana incentiva laços mais estreitos com os pacientes. “Os médicos que vêm de fora colhem material para preventivo. Alguns não faziam isso. Mandavam sempre a enfermeira. Já ouvi muitos dizendo que agora vão fazer o procedimento”, conta uma funcionária da unidade.
A sensação térmica em Vila do Céu era de 40 graus na quinta-feira, quando Julio recebeu O DIA no consultório. Do bolso, ele tira um lenço para enxugar o suor no rosto. Apesar do ar condicionado, o calor é quase insuportável. Uma realidade que não assusta quem tem no currículo experiências no Haiti, onde o atendimento era feito em postos sem ventilação ou qualquer iluminação. 

Julio Cesar Naranjo, 46 anos, deixou para trás dois filhos e tem pela frente o desafio de atender 4 mil pessoas
Foto:  Divulgação

“Achei que iria encontrar um cenário no Rio muito pior do que realmente é. Vi que tem estrutura e a equipe é dedicada. É possível fazer um bom trabalho”, avalia ele, que deixou dois filhos na ilha de Fidel. “Um deles será médico”, diz, orgulhoso. Por aqui, o trabalho na comunidade de 29 mil habitantes será exaustivo. No hospital onde atuava em Cuba, ele tinha sob sua atenção 1,2 mil pessoas. Em Vila do Céu, serão 4 mil. Pacientes como a pequena Mariana Cadena, de 6 meses, estão na lista de atendimento. Enquanto mama, sua mãe, a camelô Raquel Cadena, 38, diz estar esperançosa. 

Pacientes aprovam atendimento
Foto:  Divulgação

“Ficamos quase dois meses sem o médico de família. A ajuda vinha da enfermeira, que acompanhava o peso da neném. Estava preocupada com o desenvolvimento dela”, avalia Raquel. A mãe disse não se importar com a consulta auxiliada por uma enfermeira tradutora. “Quero alguém para me atender. Não importa de onde venha”. 
Dos R$ 10 mil que o governo brasileiro vai passar para a Organização Pan-Americana de Saúde, referentes ao trabalho dos cubanos, Julio e sua família vão ficar com cerca de R$ 2,3 mil. O restante é retido por Cuba, que durante os três anos que os médicos vão ficar aqui continuará depositando o salário deles. “O que vai para lá será reinvestido na área de saúde. Não é para mim. É para todo mundo”, explica Julio, sem se mostrar incomodado.
Cidade que mais avançou 
A chegada de 70 médicos estrangeiros, sendo 65 vindos de Cuba, vai elevar o Rio ao patamar de cidade que mais avançou a curto prazo em cobertura de saúde da família. A partir de amanhã, o cadastro de controle da Secretaria Municipal de Saúde passa a registrar mais 300 mil cariocas com atendimento monitorado pelo programa. Com isso, serão, no total, 2,83 milhões de pessoas monitoradas pelos postos de saúde e Clínicas da Família. Com o reforço vindo de outros países, esse percentual vai saltar dos atuais 41% para 45%.
Até o momento, a prefeitura não tem registro de problemas com médicos estrangeiros. Pelo contrário. A aceitação tem superado as expectativas. Acostumada a atender em localidades de extrema miséria, em países como Honduras e Bolívia, Leonor Maria Pérez, 48, acha que a profissão é uma atividade humanitária. “Todo médico deveria trabalhar em regiões carentes. A gente estuda é para isso, para ajudar as pessoas”.
Medo da violência noticiada 
A rotina no Rio é parecida com a de Cuba. São 40 horas por semana, mas lá os médicos trabalham quatro horas todos os sábados. Assim como o colega que atua em Vila do Céu, José Manuel Anaya, 45, que trabalha no Centro de Saúde de Inhoaíba, passou pela Venezuela. Também esteve em Gana antes de vir para o Brasil. 
No Rio, admite ter medo da violência: “Vejo nos jornais que aqui tem três, quatro mortos por dia. Por isso, estou sempre atento”, afirma o cubano, que ainda não teve tempo para conhecer pontos turísticos da cidade.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Maria da Penha:lei só no papel não funciona


O combate à violência praticada contra a mulher tem um símbolo no Brasil: Maria da Penha. Farmacêutica bioquímica, Maria da Penha chegou a ficar internada por quatro meses devido a um tiro disparado pelo ex-marido, que a deixou paraplégica. O caso ganhou repercussão e, apesar da morosidade da Justiça, resultou na principal ferramenta jurídica de defesa das mulheres vítimas de violência. Ter seu nome vinculado à lei não a faz esmorecer. Em entrevista ao programa3 a 1, da TV Brasil, ela admitiu que a lei sozinha, só no papel, não funciona.

“Falta criar políticas públicas, [e investimentos em] delegacias da mulher, centros de referências da mulher, casa-abrigo e juizado”, disse Maria da Penha. “Mas não adianta ter a política pública se quem está trabalhando não for sensível e não for capacitado [para atender à mulher]”, acrescentou. Foram necessários quase 20 anos para que o ex-marido fosse condenado pelo crime que cometeu. Ele ficou preso dez anos e hoje está livre.

Penha considera a divulgação de casos iguais ao dela, ocorrido em 1983, muito importante. Em outra ocasião, lembrou a farmacêutica, ele tentou eletrocutá-la, danificando o chuveiro elétrico. “[Por isso] vou escrever um livro e contar minha história”, anunciou durante o programa. “O livro vai mostrar que o Poder Judiciário não faz justiça e que as políticas públicas que devem ser criadas para atender à lei não existem. [E mostrar que] gestor público não se sensibiliza [em casos que envolvem violência contra mulheres]”.

A lentidão do Judiciário foi criticada por ela durante a entrevista. “Eu vi a demora do Poder Judiciário, deixando o processo dentro das gavetas e atendendo recursos procrastinadores [impetrados com o objetivo de atrasar o processo]”. Penha lembrou que no primeiro julgamento o marido foi condenado a uma pena de oito anos, mas acabou livre por causa de recursos.

“Naquele momento, eu fiquei muito angustiada. Já era conduta do Judiciário garantir a impunidade dos agressores na época”, disse ela ao lembrar os efeitos que a situação causava em sua família. “Precisamos criar nossos filhos em um ambiente saudável, uma ambiente sem violência”, acrescentou. “E não adianta ter a política pública se quem está trabalhando não for sensível e não for capacitado. Mudar a cultura é difícil. Tem de haver um olhar público para quem tem a responsabilidade de aplicar e dar agilidade aos processos”.

Fonte: Agência Brasil

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Haddad quer empregar viciados da cracolândia em parques de SP





A gestão Fernando Haddad (PT) estuda criar vagas de trabalho para empregar usuários de drogas da região da cracolândia em serviços de zeladoria para a prefeitura, como o cuidado de parques e outras áreas públicas.

O projeto deve ser criado por decreto, mas ainda está em fase de análise da viabilidade jurídica e financeira.

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A ideia é abrir cerca de 400 vagas temporárias.

O valor e a forma de remuneração ainda estão sendo definidos pela administração. Está em análise se o pagamento será feito em dinheiro ou por meio de um cartão.

Também estão sendo definidos os critérios de admissão no programa. A gestão pretende criar mecanismos para acompanhamento dos selecionados e formas de encaminhá-los a emprego fixo.

O público alvo do projeto são todos os moradores de rua da cracolândia, muitos deles usuários de drogas.
Fonte:Folha de S.Paulo

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

América Latina terá quatro países sob comando feminino em 2014




LÍGIA MESQUITA
DA ENVIADA A SANTIAGO

Quando Michelle Bachelet tomar posse, em 2014, a América Latina terá pela primeira vez quatro países sob o comando feminino.

As outras presidentes em exercício na região são Dilma Rousseff, no Brasil, Cristina Kirchner, na Argentina, em seu segundo mandato, e Laura Chinchilla, na Costa Rica.

Michelle Bachelet vence segundo turno e voltará à Presidência do Chile
Análise: Grandes mineradoras de cobre temem pancada tributária no Chile

Duas mulheres também exercem o papel de primeira-ministra em países do Caribe: Portia-Simpson Miller, na Jamaica, e Kamla Persad-Bissessar, em Trinidade e Tobago.

Essa ascensão política feminina na região desde 2006, quando Bachelet foi eleita pela primeira vez, se deve em parte a um grande desgaste com os políticos como um todo e à demanda por renovação nesses países, segundo Kirsten Sehnbrunch, diretora do Centre for New Development Thinking da Universidade do Chile.

"As pessoas em geral confiam mais nas mulheres do que nos homens e isso se projeta nas eleições. E as mulheres também não têm a imagem associada à corrupção", afirma a autora do livro "Chile debaixo do Arco-Íris: 20 Anos da Concertação".

"Eu entregaria minha carteira e o meu bebê, por exemplo, para Bachelet e para Evelyn Matthei, mesmo não tendo votado em uma delas. Porque confiamos na competência e na boa intenção das mulheres."
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/12/1386111-america-latina-tera-quatro-paises-sob-comando-feminino-em-2014.shtml

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Na idade da bicicleta

Algumas bicicletas modernas são feitas de fibra de carbono --material leve e resistente. Há 203 anos, quando surgiram, elas eram de madeira e não tinham pedais


Entre a "idade da madeira" e a "idade da fibra de carbono", muitas foram as mudanças.

Veja os primeiros modelos

Em 1813, um engenheiro alemão, Karl Friedrich von Drais, colocou o movimento de direção. Esse segundo modelo também tinha o apoio para o abdômen e foi chamado de draisiana.

Apareceram os pedais
O francês Pierre Michaux foi o primeiro a colocar pedais nas rodas dianteiras das bicicletas. O "biciclo Michaux", criado por ele em 1865, já podia ser dirigido e também pedalado. Pierre Michaux foi também o primeiro fabricante de bicicletas da história.

Rodas são diferentes
A bicicleta com uma roda grande e a outra pequena é um biciclo inglês de 1870. Ela já tinha raios de aço. Foi o inglês James Stanley quem a criou.

Os raios de aço eram para aguentar as pedaladas sobre as pedras das ruas de Londres. Nessa época, a bicicleta começou a virar moda.

Modelo é mais baixo
O "biciclo Lawson", modelo inglês de 1879, inventado por Lawson, foi muito bem aceito. Ele já era mais parecido com as bicicletas atuais. O biciclo era mais baixo do que os modelos anteriores. No mesmo ano, surge um tipo de câmbio usado para mudar a corrente de lugar.

Era boa de briga
A bicicleta também teve outras utilidades. O modelo da marca japonese Silk, fabricado por volta de 1942, era verde oliva e foi muito usado durante a 2ª Guerra Mundial, para facilitar o deslocamento de soldados. Ele era dobrável, o que facilitava o transporte na guerra.

Modernas são mais leves
Modelos mais modernos são fabricados com fibra de carbono, e chegam a custar 7 mil dólares. A Caloi by Vitus, francesa e montada no Brasil, é utilizada em competições esportivas. Tem até 16 marchas e não pesa nem oito quilos. Ela anda acima de 50 quilômetros por hora.

*
Se você tomar alguns cuidados, a sua bike pode durar muito. Veja as dicas que João Lourenço, 35, do departamento de ciclismo da Caloi, deu à Folhinha para ajudar a conservar as bicicletas.

Você nunca deve lavar a bicicleta com jatos de água muito fortes. É melhor usar mangueira comum e sabão em pó. Use pouco sabão. Na hora do banho da bike, cubra bem o eixo do movimento central para não deixar a água molhar a caixa. É um lugar fácil de entrar água e muito difícil para limpar.

A corrente da bicicleta enferruja com certa facilidade. Cuidado para não deixar molhar. Nas bicicletarias --lojas especializadas em produtos para bikes e ciclistas-- você encontra produtos certos para limpá-las, sem estragá-las.

A cera de lustrar o carro de seu pai pode ajudar a proteger a pintura de sua bicicleta.

Você deve manter os pneus cheios, mas não muito. Eles podem até estourar, se você exagerar.

De vez em quando, dê uma espiada nos breques para ver se eles ainda estão bons.

Fonte:Folha de São Paulo

domingo, 15 de dezembro de 2013

A redução da pobreza na América Latina




Venezuela, Equador e Brasil lideram o ritmo de redução da pobreza entre os países da América Latina. Estudo divulgado hoje (5) pela Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), da ONU, mostra que a proporção de brasileiros considerados pobres ou extremamente pobres se reduziu pela metade entre 2005 e 2012, de 36,4% para 18,6% – os chamados indigentes foram de 10,7% para 5,4%.

Entre 2011 e 2012, o Brasil conseguiu uma redução de 2,3 pontos na proporção de pobres, o que o coloca entre as nações que melhores resultados alcançaram no ano passado. Significa dizer que 48 milhões de brasileiros, ou 24% da população, permanecem nestas duas faixas sociais. Na Venezuela a taxa caiu 5,6 pontos, de 29,5% a 23,6%, enquanto no Equador o recuo foi de 3,1 pontos, de 35,3% para 32,2%.

No geral, porém, a Cepal mostrou-se pouco otimista com os resultados alcançados em 2012, que mostram, no balanço da região, um ritmo menor de redução da pobreza, que ao longo de toda a década apresentou um recuo considerado histórico. A estimativa é de que 164 milhões de pessoas sejam pobres no fechamento de 2013, o equivalente a 27,9% da população, em patamar muito parecido ao registrado no ano anterior.

O estudo Panorama Social da América Latina 2013 indica a moderação do crescimento econômico da região e a alta nos preços de alimentos como principais fatores para explicar esse ritmo mais lento. "Desde 2002 a pobreza na América Latina caiu 15,7 pontos percentuais e a indigência 8 pontos, mas os números recentes mostram uma desaceleração", disse a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, ao apresentar o relatório, em Santiago, no Chile.

O relatório recorda que a redução dos níveis de pobreza se incrementou graças a um novo ciclo de investimentos sociais iniciado após a superação do chamado Consenso de Washington, predominante entre os governos da região na década de 1990, quando se realizou um corte neste tipo de custo.

Agora, porém, será necessário tomar novas medidas. "O único número aceitável de pessoas vivendo na pobreza é zero, pelo que chamamos aos países a levar a cabo uma mudança estrutural nas suas economias para crescer de forma sustentada com maior igualdade", disse Bárcena.

Para definir o conceito de pobreza, a Cepal cruza uma série de informações sobre saneamento, alimentação, energia elétrica, violência, moradia e educação, e a partir de uma gama de itens define uma pontuação sobre os percentuais. Com isso, a estimativa para o total de pessoas em extrema pobreza é de um aumento este ano, de 66 milhões para 68 milhões de latino-americanos.

“Uma medição multidimensional da pobreza circunscrita às necessidades básicas insatisfeitas mostra que carências tais como a falta de acesso à água potável ou a sistemas apropriados de saneamento ainda afetam a um conjunto importante de pessoas na região”, avalia o comunicado. “Isso conduz a perguntar-se se as políticas públicas destinadas à superação da pobreza estão colocando ênfase suficiente na conquista de padrões mínimos.”

A pior variação em termos totais foi registrada no México, que ganhou um milhão de pobres no ano passado, de 36,3% para 37,1% da população. A pobreza se manteve estável na Costa Rica (17,8%), em El Salvador (45,3%), no Uruguai (5,9%) e na República Dominicana (41,2%). Houve redução nos níveis de Peru (27,8% a 25,8%), Argentina (5,7% a 4,3%) e Colômbia (34,2% a 32,9%).

Em relação ao Brasil, houve avanço também na distribuição de renda, mas ainda não a ponto de tirá-lo da relação de países mais desiguais do subcontinente. Em 2002, os 20% mais pobres da população detinham 3,4% das rendas totais, contra 4,5% uma década depois, ao passo que os ricos foram de 62,3% para 55,1%. 12 das 13 nações que forneceram dados apresentaram queda no índice de Gini, que mede a desigualdade. Argentina, Brasil, Peru, Uruguai e Venezuela foram os que apresentaram melhores resultados neste sentido, todos com avanço superior a 1%.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2013/12/a-reducao-da-pobreza-na-america-latina.html

sábado, 14 de dezembro de 2013

Apresentadora que falou que Jesus é "branco" é criticada

A apresentadora Megyn Kelly, da TV Fox News, afirmou na quarta-feira que Jesus Cristo era branco, o que parece ter irritado o colunista e autor Jonathan Merritt, que escreve sobre religião para a revista The Atlantic. Ele afirma que há um consenso na comunidade científica de que, assim como a maioria dos judeus do século I, Jesus tinha pele escura.
Megyn participava de uma discussão sobre a representação de Papai Noel como um homem branco, quando trouxe ao debate outra figura - bem mais emblemática. "Só porque faz você desconfortável, não significa que tem que mudar. Jesus era um homem branco também. Ele é uma figura histórica, é um fato verificável, assim como Papai Noel. Eu quero que nossas crianças saibam disso. Como revisar a história e mudar Papai Noel para negro?", diz a apresentadora.
Para o colunista, a ideia de que Jesus tinha pele branca vem da tradição católica da Idade Média, quando era retratado dessa maneira - e muitas vezes de olhos azuis e cabelos loiros. Um dos problemas, afirma Merritt, é que a Bíblia não se preocupa em descrever a aparência de Jesus, ao contrário dos pintores.
Estudos - um inclusive baseado em um crânio de um judeu do século I - indicam que Jesus era pardo (mais adequado ao clima desértico da região), com traços fortes no rosto, ao contrário do rosto com traços frágeis e pele de porcelana dos pintores da Idade Média e da Renascença. 


Notícia copiada de: http://www.noticiascristas.com/2013/12/apresentadora-que-falou-que-jesus-e.html#ixzz2nU6XWmW7 
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A luta de Cuba contra a corrupção leva à prisão de centenas de políticos e empresários

Vídeos de operações policiais liderado pela Controladoria-Geral, circulam em toda a ilha


FERNANDO Ravsberg Havana 08:24 2013/08/12 Atualizado: 2013/08/12 08:24

Cuba acaba de ser classificado entre os cinco países menos corruptos da América Latina, atrás do Uruguai, Chile, Porto Rico e Costa Rica, de acordo com o Índice de Percepção da Corrupção (IPC) da Transparency International ONG alemã. Sua posição pode estar relacionada com a intensa campanha contra o crime de colarinho branco que levou à prisão de centenas de líderes políticos, gestores e grandes empresários estrangeiros. As ações são direcionadas a partir de Gabinete do Controlador Geral, que se reporta diretamente ao presidente Raúl Castro. repressão da criminalidade económica é tão grande que ele está mudando a composição racial das prisões com a chegada de muitos mais alvos.

A imprensa cubana não fala de negócios, limitado apenas aos poucos relatos oficiais. No entanto, circulando de mão em mão ao longo de memórias USB Cuba com imagens dos principais operações de combate à corrupção que ocorrem no país . Alguns incluem imagens de operações policiais e declarações dos principais jogadores confessando seus crimes e explicando como scams engajados. Não se sabe se se trata de materiais que escaparam ao controlo das autoridades ou foram filtradas por eles.

Em Serviços Públicas da Velha Havana, uma dúzia de líderes-chave da entidade, roubou cerca de 34 milhões de euros ao longo de um milhão. No vídeo explicar como a transferência de mais dinheiro no orçamento para pagar os salários de brigadas de limpeza inexistentes e, em seguida, fez a desaparecer. "Esta armadilha foi a coisa mais fácil do mundo" , diz o diretor em causa, acrescentando que os controles bancários e contábeis foram mínimos . Bastou uma carta assinada pelo gerente do banco para passar o orçamento fluido de 15.000 pesos para 497.000 cartão. Assim, mais de 30.000 € estavam distraídos a cada 15 dias sem ninguém para fiscalizar.

O acusado de três andares foi construído , comparando-a a um templo, e fez melhorias em sete outras casas pertencentes a seus cúmplices, além de compra de aparelhos como fogões, máquinas de lavar, geladeiras, condicionadores de ar, computadores, aparelhos de som ou fornos de microondas . E o diretor da empresa de Serviços Comunitários deu um "presente" de 11.000 € com ele um carro e um barco de recreio foi comprado.

Mas o mais surpreendente é que por dois anos alugado permanentemente automóveis de passageiros em empresas estatais, pagando € 45.000, o que deve ter chamado a atenção, considerando o salário médio mensal de um cubano. Também passou sua ficado em hotéis de 5 estrelas de Varadero, também afirmam feriados. A apreensão foi tão grande que as autoridades tomaram três caminhões para o transporte de mercadorias apreendidas.

 Enquanto isso, no Carlos III (na imagem) Mall, outra operação policial que envolveu as forças militares, mesmo contra-espionagem foi realizada. De acordo com o vídeo, foram detectados cinco casas vizinhas em que os produtos roubados gerentes que administravam as lojas foram vendidas. A inspeção constatou que os produtos estavam em falta e outros não eram legalmente apresentando. O gerente do próprio shopping explica na câmera como "multado" clientes com a venda de produtos superfaturados para manter o superávit. Também declarou como itens de "encolhimento" eram, na verdade, em perfeito estado e, em seguida, distribuídos entre os gerentes e outros líderes.

A luta contra a corrupção está a atingir níveis não vistos em Cuba por sua amplitude, sustentabilidade e alcançar as alturas. O presidente cubano havia advertido que qualquer um pode pensar que estão acima da lei e suas palavras parecem ser confirmadas quando um ex-ministro, a esposa de um general, e parentes próximos líderes de nível superior estão agora atrás das grades. Outros altos funcionários foram demitidos por negligência, porque isso "é o manto com o qual todos os desvios e roubos não são centenas ou milhares ou milhões simples, mas centenas de milhões de pesos são cobertos", disse Raul Castro no Plenário do Comitê Central do Partido Comunista.
http://www.publico.es/internacional/487600/la-lucha-de-cuba-contra-la-corrupcion-lleva-a-la-carcel-a-cientos-de-politicos-y-empresarios

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Sobre papas, capitalismo e esquerda

Seria um erro entre os progressistas não identificar mudanças no Vaticano com os discursos do papa Francisco


Quando eu era menino, meus pais ensinaram que uma coisa são as religiões (aconselhando, a mim e a meus irmãos, sermos respeitosos com os crentes, como parte do respeito devido a todo ser humano); e outra coisa são as igrejas (qualquer que seja sua cor), que reproduzem e gerenciam as religiões para benefício de seus aparatos ou hierarquias – o que explica sua constante identificação com as estruturas de poder às quais servem. Nem é preciso dizer que meus pais não nos exigiam respeito por essas estruturas.

Papa Francisco diz que Igreja não mudará posição contra o aborto

Ao longo da minha vida, visitei muitíssimos países. E em todos eles sempre constatei que as igrejas (e muito em especial a Católica) servem sempre às estruturas de poder, sendo a Espanha o caso mais patente. É portanto compreensível o anticlericalismo das classes populares na Espanha. Considero um sintoma de enorme frivolidade trivializar este anticlericalismo como um sentimento gratuito, resultado de ideologias estrangeiras que manipulam os povos. As classes populares não necessitavam de nenhum estímulo externo para ver e reagir ao que veem.

Este conservadorismo da Igreja Católica (hoje uma das religiões mais conservadoras) é, em parte, compreensível, dado o benefício econômico que lhe traz. A base material de sua ideologia – como diriam os materialistas históricos – são as vantagens materiais que derivam de seu servilismo ao poder. Este mesmo servilismo é o que explica sua postura anticientífica, pois sente-se ameaçada pelo conhecimento. Não por acaso só no ano de 1992 (sim, 1992) a Igreja Católica desculpou-se por haver, no século XVII, perseguido Galileu – que ousou afirmar, contrariamente ao que dizia a Igreja, que a Terra dava voltas ao redor do Sol, e não o contrário. Em 2008, o Vaticano pensou inclusive em erigir-lhe um monumento, mas decidiu adiar o projeto, porque era ainda muito cedo. Na Igreja Católica, as coisas de palácio andam meio devagar.

O que acontece no Vaticano?

É interessante, por certo, que no jornal diário do Vaticano um historiador alemão, Georg Sans, tenha escrito em 2009 um artigo louvando Karl Marx por sua introdução do conceito de alienação criada pelo capitalismo. Dizia Georg Sans: “temos de nos perguntar se Marx não estava certo, ao descrever o capitalismo como gerador de alienação…” (citado no artigo “Is the Pope Getting the Catholics Ready for an Economic Revolution? (Maybe He Read Marx)”, de Lynn Parramore). E as declarações do novo papa criticando o capitalismo estão gerando um grande rebuliço.

Há que dar-se conta de que a Igreja Católica, e concretamente o Vaticano, sempre tiveram atitudes críticas com relação aos excessos do capitalismo. Desde as encíclicas de Leão XIII (1878-1903) até João Paulo II, as críticas aos exageros do sistema têm sido constantes. Foram mais acentuadas, aliás, quando ideologias contrárias à Igreja (ainda que não contrárias à religião), como o marxismo, alcançavam grande poder de atração junto aos movimentos de trabalhares e intelectuais do mundo ocidental.

O que é novo no Vaticano é que, no documento que o Papa Francisco acaba de publicar sobre a pobreza e a Igreja, parece haver uma suspeita de que se ensaia um passo adiante. A crítica não se limita aos excessos do capitalismo, mas ao capitalismo em si. Há partes do documento que parecem aproximar-se desta postura. Escreve Francisco: “o mandamento 'Não matarás' estabelece um mandato de respeitar a vida humana. Daí que este ‘não matar’ deve aplicar-se a um sistema econômico baseado na desigualdade e na exclusão…”. Acrescenta Francisco que “tal economia mata. Daí que até que não termine o domínio absoluto dos mercados e sua especulação financeira (que Francisco indica, corretamente, ser intrínseca ao capitalismo…), e até que não se ataquem as raízes dessas desigualdades, não se encontratrá nenhuma solução aos problemas do mundo, ou a problema nenhum”.

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Outro parágrafo de Francisco: “algumas pessoas (Francisco poderia ter escrito a maioria dos establishments econômicos, financeiros, políticos e mediáticos europeus e estadunidenses) continuam defendendo as teorias do ‘trickle-down‘, segundo as quais a concentração de riqueza produzida no crescimento econômico (capitalista) e em seus mercados trará inevitavelmente maior justiça e inclusão, ao aumentar a riqueza, melhorar a vida de todos e a coesão social. Essa opinião, que nunca foi confirmada por dados, expressa uma fé ingênua e crua na bondade dos que concentram o poder econômico e na eficiência sacrossanta do sistema econômico existente”. Não vi este parágrafo citado em nenhum dos meios de comunicação de maior difusão, que têm excluído sistematicamente vozes críticas ao neoliberlismo dominante.

Não é necessário dizer que a resposta foi previsivelmente hostil. Nos EUA, um país com cultura midiática dominante profundamente conservadora, já apareceram vários artigos, escritos em tom alarmante, que “Marx está inspirando o papa”. Sarah Palin, a dirigente do Tea Party, manifestou seu choque diante das declarações de Francisco. E mais de um editorial indicou que, da mesma maneira que o papa João Paulo II contribuiu para o colapso da União Soviética, o papa Francisco pode ajudar a acabar com o capitalismo.

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Essa imagem me parece exagerada. Mas seria um erro se as forças progressistas ignorassem as mudanças no Vaticano. Entendo e compartilho as reservas e o ceticismo sobre o novo papa, ceticismo estimulado por casos tão ofensivos e prejudiciais aos democratas como o silêncio de Francisco diante da homenagem aos que tombaram na Cruzada espanhola. Mas considero valiosa a existência, na Igreja, de transformações que diluam sua esmagadora oposição à mudança e ao progresso. Daí sua enorme importância. Seria um grande erro não estar ciente disso, em países onde a Igreja sempre desempenhou papel negativo em defesa da ordem econômica estabelecida e contra a expansão dos direitos humanos.

Vicenç Navarro é professor catalão de ciencias políticas e políticas públicas na Universidad Pompeu Fabra, e na Johns Hopkins University. Tem sido conselheiro de diversos países, como Cuba, Chile e Estados Unidos, bem como da ONU e da OMS. Também é diretor do Observatório Social de España, onde coordena um projeto de pesquisa sobre o estado do bem-estar social. Publicado no blog Outras Palavras.
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/32927/sobre+papas+capitalismo+e+esquerda.shtml