domingo, 5 de agosto de 2018

SOPA DE PEDRA

Contam que havia nos cafundós do sertão nordestino - em tempos que já se foram - um vigário que costumava percorrer a caatinga, montado num jumento ferrado e guarda-sol aberto, a fim de levar a palavra de Deus aos mais distantes fiéis.

Certa vez, já anoitecia, quando um vigário, sem abrigo e alimento, conseguiu chegar a uma casa. Sem mais demora, pediu que lhe dessem algo para comer. Entretanto, o pedido do padre andarilho, foi, prontamente, negado. Sem perder a calma e de maneira cortês, pediu, então, apenas um pouco d'água para fazer uma sopa de pedra.
Curiosos, os moradores deixaram-no entrar e deram-lhe uma panela de água, na qual, o padre colocou uma pequena pedra lavada e levou a panela ao fogo.


- Isso com um bocadinho de sal seria um ótimo consolo - disse o vigário.
E deram-lhe o sal.
- Ora, bem que uns feijões aqui e ali viriam a calhar - teimava o padre.
E deram-lhe uns feijões.
- Para ter mais sabor, um pedacinho de toucinho, seria o ideal.
E deram-lhe o toucinho.
Assim, ele acrescentou ainda um fio de azeite, umas couves da horta, batata, alho e cebola, até que a sopa ficou um primor e foi consumida até a última gota.
Terminada a janta, seu vigário, muito do bonachão, retirou a pedra da panela, lavou-a, e guardou novamente na sua algibeira, para outras sopas de pedra. Tocou no crucifixo que trazia no peito e disse aos moradores:

- Inté logo, meus filhos! Deus os abençoe!


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