segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Este é um episódio histórico que a maioria dos cristãos e dos 

muçulmanos preferiria esquecer...



Em 1095, o Papa Urbano II lançou suas palavras e fez-se ouvir por toda a Europa, conclamando todos os seguidores de cristo a pegar em armas e marchar em direção à Terra Santa para liberta-la do domínio dos infiéis muçulmanos turcos e árabes e para auxiliar seus irmãos ortodoxos do Império Bizantino, no leste, a lutar contra esta grande ameaça (Uma das razões oficiais foi o apelo do Imperador bizantino Aleixo I por mercenários europeus para ajudar a combater os invasores). Estava plantada a semente da chamada Primeira Cruzada, de um total de 9 Cruzadas (houveram Cruzadas na Península Ibérica e contra os pagãos no norte da Europa, mas estas não se enquadram nesse grupo).

Milhares de cristãos atenderam ao chamado de seu líder espiritual e se dispuseram a viajar longas distâncias desde lugares como Inglaterra, França, Espanha, Alemanha e outros até as terras do Oriente Médio, e a dar suas próprias vidas em nome da fé. Tudo muito nobre, tudo muito bonito. Mas é claro que estas pessoas que estavam dispostas a lutar por seu lugar no paraíso (o Papa prometeu a todos os cruzados, como ficaram conhecidos os soldados que partiram nessas incursões, a remissão automática de todos os pecados e a entrada direta no céu) não sabiam de toda a verdade.

O fato é que os muçulmanos já eram uma pedra no sapato dos mercadores do sul da Europa desde que os árabes partiram para dominar todo o sul do Mediterrâneo, no século após a morte de Mohammed, culminando na conquista de quase toda a Península Ibérica no século VII e a Batalha de Tours, na qual Carlos Martel impediu que todo o continente tivesse o mesmo destino, e os comerciantes venezianos não estavam dispostos a deixar que a situação continuasse como estava, e por isso patrocinaram essas incursões de guerra visando o estabelecimento de entrepostos comerciais que lhes dessem acesso às inestimáveis especiarias do Oriente, que valiam literalmente seu peso em ouro durante a Idade Média. Outra razão que os comandantes cruzados não revelaram aos seus subordinados foi a busca dos grandes senhores feudais pelo seu bem mais cobiçado e que era cada vez mais raro no continente europeu: Terras. a população crescia, as colheitas falhavam, e mais e mais nobres sem terra ansiavam por um quinhão do poder representado pela posse de regiões para serem cultivadas

De todas as nove cruzadas (chamadas de "Guerras Santas" na época) somente a Primeira alcançou o objetivo de conquistar Jerusalém, e durante menos de um século os peregrinos cristãos puderam visitas os locais santos da cidade, mas depois disso os muçulmanos retornaram e reconquistaram quase toda a região.

Os exércitos cruzados nunca deixaram de tentar recuperar o controle da região, e isso custou a vida de centenas de milhares ou talvez até milhões de homens de ambos os lados, até que o rei Eduardo da Inglaterra, comandante da nona e última cruzada, assinou um tratado de cessar fogo com Bairbas, sultão mameluco que conquistou as terras do Reino Latino de Jerusalém, retornando ao seu país e pondo fim ao conflito. 

Jerusalém só voltaria a ser controlada por cristãos depois do fim da Primeira Grande Guerra, em 1918, quando a Palestina passou a ser dominada pelos ingleses, 646 anos após o fim da última cruzada.

No fim, o legado deixado por essas guerras em nome de deuses foi o sangue derramado de multidões de homens que jogaram suas vidas fora em nome de um ideal usado apenas para mascarar interesses econômicos escusos de poderosos, mas também foi indiretamente o nascimento do sistema bancário moderno, inspirado nos mecanismos de transferência de valores criados pela famosa Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, mais conhecida como Ordem dos Cavaleiros Templários (que de pobres só tinham mesmo o nome), por conta do perigo representado pelas viagens terrestres e marítimas para os peregrinos e a necessidade destes de carregar valores para sobreviver e para ofertar em sacrifício ao seu deus.

O que resta no final de tudo é uma pergunta: Será que este episódio sanguinolento da história da humanidade deveria ser esquecido, ou deve ser estudado como um exemplo cabal do que a religião pode causar se utilizada de forma radical para enganar e cegar milhões de pessoas em um esforço coletivo de destruição em nome de um ideal invisível e presumido?

Anderson Pantaleão 


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