sábado, 31 de agosto de 2013
Dilma retoma fôlego
Por Mauricio Dias, na revista CartaCapital:
Mesmo munido de lupa o leitor terá dificuldades de encontrar nas fotos das manifestações de rua, entre junho e julho, e dos pequenos protestos de agora faixas ou cartazes diretamente dirigidos contra a presidenta Dilma Rousseff. Naquele momento ela surfava uma popularidade inédita na história do País.
As referências indiretas, no entanto, estavam lá, no mal-estar geral que a sociedade expunha: saúde, educação, violência e o surpreendente ataque às obras monumentais dos estádios de futebol, que contaram com apoio maciço dos governos estaduais onde foram e estão sendo construídos.
Não haveria palanque melhor na eleição de 2014. Ninguém duvidava disso. Prepararam uma festa, uma Copa do Mundo, para fazer orgulho ao país do futebol. Os torcedores saíram às ruas País afora. Não distribuíam os aplausos esperados, e, sim, inesperados apupos.
Dilma não era o alvo dos protestos e não houve, naquele momento, quem tenha afirmado que a violenta e rápida queda na popularidade dela e do governo era resultado das manifestações. Não se encontrava uma explicação consistente para sustentar a perda de apoio na sociedade, em torno de 35 pontos, em pouco mais de 30 dias. Uma anomalia.
Em pouco tempo, porém, Dilma virou alvo dos analistas conservadores ou “da imprensa de direita”, como pondera com razão e ousadia o ministro Joaquim Barbosa. Eles tentaram dar o empurrão para ela cair no precipício.
Mas o tombo foi coletivo. Poucos governantes escaparam do fenômeno. Há provas consistentes da queda geral na popularidade. De alto a baixo. Números da pesquisa Ibope de meados de julho, nunca publicados pela imprensa, mostram isso.
A popularidade da presidenta, no conceito “ótimo e bom” (31%), após a queda vertiginosa (caiu de 57%), manteve-se maior, embora na margem de erro, do que a média dos governadores e dos prefeitos: 28%.
Todos eram alvo daquela surpreendente irrupção social com pouca participação popular. Dilma surpreende quando cai e quando sobe. Nas duas últimas pesquisas (Datafolha e Ibope), ela iniciou um processo de recuperação da popularidade. Voltou, segundo o Ibope, a alcançar 38% de “ótimo e bom”. Ao contrário do que se falou, a reação positiva nada tem a ver com o fim ou a diminuição das manifestações.
As melhores referências são as feiras livres e as gôndolas dos supermercados.
Na ótica do Ibope há uma correlação entre a avaliação da presidenta e a dos governadores: “De um modo geral, nos estados em que os governadores são mais bem avaliados, a presidenta também é mais bem avaliada, independentemente do partido político do governador”. Ou seja, em geral, o negativo e o positivo são creditados tanto ao governador quanto ao governo federal.
Não havia certeza sobre o que a fez perder bruscamente a popularidade que tinha, assim como agora ainda não se pode avaliar a razão pela qual está se reabilitando. E há notícias de que continua em viés de alta.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2013/08/dilma-retoma-folego.html
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Médicos tipo exportação
País forma milhares de médicos por mês como produto de exportação
Cuba consegue exportar milhares de médicos de uma só vez porque montou uma linha de produção em série. Com 11 milhões de habitantes, o país formou em julho passado 10.526 graduados em medicina, dos quais quase a metade (4.843) é de outros países.
O regime castrista se orgulha por suas realizações na área de saúde pública, como uma taxa de mortalidade infantil (4,76 por mil nascidos vivos) menor que a dos EUA (5,9). Desde 1959, a Revolução Cubana produziu 124.789 médicos para obter avanços na área, que se baseiam na atenção básica de saúde (prevenção de doenças).
O número de formandos quase dobrou de 2011 para 2012 graças à Escola Latino-Americana de Medicina, cujo lema é "Forjando um Exército de Aventais Brancos". Mais do que nunca, profissionais de saúde se tornaram um item prioritário na política externa de Cuba.
A iniciativa do governo Dilma Rousseff, nesse sentido, parece destinada a transformar o Brasil numa pequena Venezuela. A República Bolivariana de Hugo Chávez e Nicolás Maduro abriga 31 mil médicos cubanos, pelos quais retribui com o envio de 100 mil barris de petróleo por dia --que a revista "Foreign Affairs" calculou custarem uns US$ 3 bilhões por ano.
Mesmo descontando os 3.815 latino-americanos graduados na ilha em 2012, ainda sobraram novos 6.724 médicos cubanos. Não é de estranhar, nesse ritmo, que Cuba seja vice-campeã na lista da Organização Mundial da Saúde (OMS) de médicos por grupo de mil habitantes. Tem 6,72/1.000 e só perde para Mônaco (7,06/1.000).
Mesmo para um sistema fundado em uso intensivo de mão de obra e não de tecnologia, é médico que não acaba mais. Uma conclusão óbvia é que deve ser relativamente fácil entrar numa escola de medicina em Cuba.
Com uma seleção menos elitizada de estudantes, pode-se presumir que o nível acadêmico médio dos cubanos fique aquém do que se encontra em países como o Brasil, onde a malha da peneira é bem mais apertada.
Isso quer dizer que os médicos cubanos são mal formados, ruins ou incompetentes? Não necessariamente. Na medicina preventiva, sua especialidade, é possível que se revelem até mais eficientes que os do Brasil, cuja medicina tem outras prioridades.
domingo, 25 de agosto de 2013
Pobreza e violência
Pobreza gera violência? Depende
Autor: Almir
A violência nas grandes cidades e na sociedade brasileira, de modo geral, está tão presente no nosso cotidiano, que temos dificuldade de tomar a devida distância para torná-la objeto de reflexão. Estamos tão acostumados com ela, que podemos nos chocar com um ou outro evento isolado – que suscitam reações como as campanhas fascistas pela diminuição da maioridade penal – mas já não nos surpreendemos mais com sua onipresença. Aliás, é justamente por essa dificuldade que vemos tais opiniões distorcidas, tão superficiais e no entanto, carregadas de certezas de serem a verdadeira solução para todos os problemas sociais. É preciso deixar de lado o comodismo das opiniões fáceis, para, além de deixar de ser massa de manobra de setores conservadores, poder entender melhor os problemas do nosso país e propor soluções mais certeiras.
Pobreza e violência
É muito comum entre os brasileiros a ideia de que a violência é fruto direto da desigualdade, da distribuição injusta de renda, da dificuldade do acesso dos mais pobres aos bens de consumo, etc. Isso realmente é verdade, mas explica apenas um detalhe do nosso problema. A pobreza só é fonte de violência na medida em que a riqueza econômica e o consumo de bens materiais se tornam valores hegemônicos na sociedade,
Somente numa cultura que enaltece a posse do dinheiro e bens como expressão de sucesso, de uma vida digna de ser vivida, a pobreza tende a ser vivida como exprimindo o contrário. Num contexto como esse, a pobreza não implica apenas restrição material, mas, sobretudo, uma restrição simbólica [moral], e como tal precisa ser negada de qualquer forma, mesmo com o recurso à violência
O que o professor pretende chamar a atenção é para o fato de que a pobreza econômica não pode ser automaticamente ligada à produção da violência, como se houvesse um vínculo intrínseco entre elas. Só há violência onde a riqueza é o maior valor de uma sociedade, como nas populações urbanas das grandes cidades.
Onde o capitalismo não penetrou a violência também não
Nas sociedades mais rurais do nordeste brasileiro e na Índia, por exemplo, regiões de grandes disparidades econômicas e fortes tradições, outros valores se impõem sobre a ideia de sucesso através do consumo, comum nas grandes cidades. Cada lugar com suas características diferentes, mas ambas tendo em comum o fato de que as disparidades econômicas entre as minorias ricas e as massas pobres não causam conflitos nem violência. Por quê?
Porque essas sociedades são fundadas em valores diferentes da busca pelo sucesso, consumo material e pela riqueza, marcas das sociedades capitalistas. E além do mais, a religião desempenha um forte papel na estrutura social dessas regiões, bem maior do que nas grandes cidades. O catolicismo do Sertão impõe a ideia de hierarquização social, do sofrimento como provação de fé e a esperança na justiça no outro plano, o sobrenatural. O hinduísmo da Índia, por sua vez, afirma que as características da vida atual são determinadas pelas ações e o tipo de existência que tivemos em vidas passadas. Apesar do sistema hierárquico de castas ter sido abolido em 1948, o costume persiste e o conformismo também. Em sociedades assim, é mais fácil uma explosão de violência insurgir contra as mudanças do que as permanências da desigualdade. Portanto, é preciso tomar cuidado quando se diz que a pobreza está intrinsecamente ligada à violência, se não entendemos o que está por trás delas.
http://panoramicasocial.blogspot.com.br/2013/05/pobreza-gera-violencia-depende.html#.UhoYWZL9Rgi
Autor: Almir
A violência nas grandes cidades e na sociedade brasileira, de modo geral, está tão presente no nosso cotidiano, que temos dificuldade de tomar a devida distância para torná-la objeto de reflexão. Estamos tão acostumados com ela, que podemos nos chocar com um ou outro evento isolado – que suscitam reações como as campanhas fascistas pela diminuição da maioridade penal – mas já não nos surpreendemos mais com sua onipresença. Aliás, é justamente por essa dificuldade que vemos tais opiniões distorcidas, tão superficiais e no entanto, carregadas de certezas de serem a verdadeira solução para todos os problemas sociais. É preciso deixar de lado o comodismo das opiniões fáceis, para, além de deixar de ser massa de manobra de setores conservadores, poder entender melhor os problemas do nosso país e propor soluções mais certeiras.
Pobreza e violência
É muito comum entre os brasileiros a ideia de que a violência é fruto direto da desigualdade, da distribuição injusta de renda, da dificuldade do acesso dos mais pobres aos bens de consumo, etc. Isso realmente é verdade, mas explica apenas um detalhe do nosso problema. A pobreza só é fonte de violência na medida em que a riqueza econômica e o consumo de bens materiais se tornam valores hegemônicos na sociedade,
Somente numa cultura que enaltece a posse do dinheiro e bens como expressão de sucesso, de uma vida digna de ser vivida, a pobreza tende a ser vivida como exprimindo o contrário. Num contexto como esse, a pobreza não implica apenas restrição material, mas, sobretudo, uma restrição simbólica [moral], e como tal precisa ser negada de qualquer forma, mesmo com o recurso à violência
O que o professor pretende chamar a atenção é para o fato de que a pobreza econômica não pode ser automaticamente ligada à produção da violência, como se houvesse um vínculo intrínseco entre elas. Só há violência onde a riqueza é o maior valor de uma sociedade, como nas populações urbanas das grandes cidades.
Onde o capitalismo não penetrou a violência também não
Nas sociedades mais rurais do nordeste brasileiro e na Índia, por exemplo, regiões de grandes disparidades econômicas e fortes tradições, outros valores se impõem sobre a ideia de sucesso através do consumo, comum nas grandes cidades. Cada lugar com suas características diferentes, mas ambas tendo em comum o fato de que as disparidades econômicas entre as minorias ricas e as massas pobres não causam conflitos nem violência. Por quê?
Porque essas sociedades são fundadas em valores diferentes da busca pelo sucesso, consumo material e pela riqueza, marcas das sociedades capitalistas. E além do mais, a religião desempenha um forte papel na estrutura social dessas regiões, bem maior do que nas grandes cidades. O catolicismo do Sertão impõe a ideia de hierarquização social, do sofrimento como provação de fé e a esperança na justiça no outro plano, o sobrenatural. O hinduísmo da Índia, por sua vez, afirma que as características da vida atual são determinadas pelas ações e o tipo de existência que tivemos em vidas passadas. Apesar do sistema hierárquico de castas ter sido abolido em 1948, o costume persiste e o conformismo também. Em sociedades assim, é mais fácil uma explosão de violência insurgir contra as mudanças do que as permanências da desigualdade. Portanto, é preciso tomar cuidado quando se diz que a pobreza está intrinsecamente ligada à violência, se não entendemos o que está por trás delas.
http://panoramicasocial.blogspot.com.br/2013/05/pobreza-gera-violencia-depende.html#.UhoYWZL9Rgi
sábado, 24 de agosto de 2013
"Não precisamos de Revalida"
Na chegada ao Rio de Janeiro dos médicos formados no exterior para o programa Mais Médicos, do Ministério da Saúde, foram os brasileiros que estavam fora do País e que aderiram ao programa que bateram forte contra os críticos da iniciativa. "Não precisamos de Revalida (o exame de revalidação de diploma). Fiz cinco anos de pediatria lá fora e não dois aninhos como aqui", disse em tom crítico o goiano Marcio Moura, que abandonou o serviço público no Faro, sul de Portugal, para voltar ao Brasil com a mulher e a filha para trabalhar em Pirenópolis, Goiás. "Não precisamos de dinheiro, viemos pelo desafio de trabalhar no nosso País", disse.
Há 20 anos em Portugal e formado na Espanha, Robson Carmo é outro que decidiu voltar ao Brasil. "Devo responsabilidade ao pacientes e não aos médicos brasileiros. As pessoas é que devem me avaliar", disse, afirmando que a bolsa oferecida de R$ 10 mil é o fator menos importante. "Lá fora ganhava duas vezes e meia mais que aqui", afirma. "E chega uma borda na vida que nem tudo é dinheiro. Os colegas brasileiros não precisam ficar com medo da gente" disse Marcio, revoltado com a polêmica. Ele disse que decidiu voltar ao Brasil há apenas 40 dias.
Outra revolta dos médicos recém-chegados de Portugal é sobre a reclamação das entidades médicas de falta mais estrutura do que profissionais da saúde no Brasil. "Conheço a realidade na minha cidade e sei que nos postos os médicos estão bem equipados", disse Geslei Teodoro, outro goiano que deixa a Europa para voltar para casa. "Entendo a preocupação dos médicos daqui, mas com o tempo isso passa", disse, afirmando que há muitas inverdades sobre a formação deles no exterior. "Se você quiser sair de Portugal e ir para a Inglaterra, não tem essa de fazer prova, basta certificar que você sabe falar inglês", comentou ao lado dos dois amigos, dois médicos brasileiros que vieram da Argentina e quatro médicos portugueses.
Durante todo o fim de semana, 68 médicos vão chegar no aeroporto do Galeão vindos de Portugal, Alemanha, Espanha, Uruguai, Argentina e Rússia, sendo alguns brasileiros formados nesses países. Do total de 244 médicos que chegam ao Brasil, 47 vão ficar em cidades do Estado do Rio. Eles vão ficar três semanas em um alojamento do exército e participam de um treinamento de avaliação de programa de saúde e língua portuguesa feita por uma universidade federal.
Independente da especialidade de cada profissional, eles atuarão como médico de família. Depois de aprovados, eles ganham visto de trabalho de três anos de duração para trabalhar apenas no local escolhido no processo de seleção.
Independente da especialidade de cada profissional, eles atuarão como médico de família. Depois de aprovados, eles ganham visto de trabalho de três anos de duração para trabalhar apenas no local escolhido no processo de seleção.
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Mais de 40% dos professores em SP já sofreram violência de alunos
O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e o Instituto Data Popular fizeram uma pesquisa chamada "Violência nas escolas: O olhar dos professores", questionando 1400 docentes em 167 escolas estaduais sobre o tema da violência. E constataram que 4 a cada de 10 professores (44%) da rede de ensino em São Paulo já sofreram, ao menos uma vez, violência dentro das escolas. Mais de 57% dos professores consideram as escolas em que atuam um local de grande violência.
Outros dados preocupantes: quase um a cada cinco (24%) já foi roubado; 72% viram alunos brigando; 35% já foram ameaçados dentro da escola; 36% não se sentem seguros no entorno das escolas; entre outros.
Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular, afirmou ao Uol que "os professores já chegam para trabalhar em um ambiente em que não se sentem seguros. Quanto mais afastado do centro, maior a sensação de insegurança" (18% dos docentes, de acordo com a pesquisa, não se sentem seguros dentro da escola).
Soluções
Alunas brigando em sala de aula
O estudo apurou também que quatro a cada dez escola não possuem projeto para o combate àviolência. Sobre essa apuração Meirelles dispara: "Um dos caminhos efetivos é envolver a comunidade em um programa contra a violência. É preciso reunir professores, alunos, pais de alunos e o governo para combater essa epidemia".
O supervisor do sistema de proteção escola da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, Felippe Angeli, disse que há uma pasta com sistema de segurança escolar desde 2009, mediand/o conflitos e diminuindo a violência, inclusive com assessoria da Polícia Militar.
De acordo com Angeli, a pesquisa demonstrou "a necessidade de todos os atores envolvidos [no sistema educacional - tanto professores quanto alunos e suas respectivas família - ] conhecerem as questões para juntos encontrarem soluções para o problema".
Caio Barbosa é sociólogo.
http://www.folhapolitica.org/2013/05/44-dos-docentes-em-sp-ja-sofreram.html
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
A eterna escravidão nossa
Se a lei deu a liberdade jurídica aos escravos, a realidade foi cruel com muitos deles. Sem moradia, condições econômicas e assistência do Estado, muitos negros passaram por dificuldades após a liberdade. Muitos não conseguiam empregos e sofriam preconceito e discriminação racial. A grande maioria passou a viver em habitações de péssimas condições e a sobreviver de trabalhos informais e temporários."
"A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil" Joaquim Nabuco
A retratação nacional veio tarde, com os recentes programas de inclusão, mas não sem hora. Só andar pelas grandes cidades e descobrir o retrato da desfeita histórica da nossa nação.
Muitos estão criticando as bolsas que estimulam o ingresso dos negros de famílias de baixa renda em Universidades e estão chamando as iniciativas de Racistas.
Bom, entre um "racismo" de querer mudar o quadro desta situação histórica, com acesso à educação e o de eliminar negros na favela, prefiro o primeiro.
O que vocês estão assistindo agora é algo que deveria ter acontecido há tempo, só está sendo possível porque não é mais a elite que manda e desmanda somente, como era antigamente.
Estamos afinando a democracia, como deve ser.
Felizmente, estão tentando fazer inclusões para reverter o quadro, que hoje encontra-se em tal situação deplorável. Ainda vivemos sob as diretrizes dos escravocratas, eles ainda perpetuam-se entre nós e como naturalmente foram beneficiados pela história, estão com os mesmos ou mais poderes que antes.
A realidade é que a pele representa, nesse caso, a identificação de pessoas que foram prejudicadas, por terem ancestrais que não tiveram direito a trabalhos bem remunerados, heranças e outras oportunidades.
Os negros que hoje vivem em situações melhores, se tiveram isso desde seus ancestrais, infelizmente, podem ter como avós, aqueles que prestaram valiosos serviços aos escravocratas, não é uma máxima, mas existem.
Todos nós, atualmente, mantemos heranças, culturais e financeiras enraizadas. Alguns bem sucedidos de hoje são representações das famílias bem sucedidas de antes e os que não são, claramente fazem parte dos que estão espalhados pelas favelas e pelas ruas.
É difícil libertar-se disso, existe uma carga na memória que manifesta-se em nossa mente, ainda que inconsciente. Não são todos que são capazes de entender isso, por isso alguns consideram essas facilidades para as pessoas negras como se fosses especificamente um caso de racismo.
Caso queira saber mais e ver um pouco sobre o passado, aqui esta:
Brasil: Uma História Inconveniente
E caso considere que os tempos mudaram, observe como o FHC fica nervoso e fala bobagem:
"E acho que é possível acreditar que o Brasil tem um grande futuro, desde que a classe dominante tenha maior "sensibilidade" para combater a a corrupção" FHC Veja 0:05:49
http://youtu.be/52fQv9Y1shg
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
AMESTRANDO PROLETÁRIOS
AMESTRANDO PROLETÁRIOS
O conhecimento verdadeiro não tem cor, sexo ou classe. E, quando tem, então não é conhecimento verdadeiro.
O problema do pensamento politicamente correto é que ele nada tem de correto. Pior: na ânsia de impedir qualquer ofensa a grupos ou minorias, ele converte-se na mais grotesca ofensa que existe para esses grupos ou minorias.
A revista alemã "Der Spiegel" relata um caso que merece partilha: parece que a Universidade Livre de Berlim decidiu publicar um guia interno para que os alunos de famílias proletárias possam ser mais facilmente integrados na vida acadêmica. E que nos diz o guia?
Coisas sensatas. Primeiro, informa os estudantes da instituição que os coleguinhas proletários não se sentem naturalmente confortáveis em ambientes não proletários.
Mas o guia vai mais longe e exorta os alunos de classe média a gerar o ambiente ideal para que os coleguinhas proletários se sintam em casa. Como? Por exemplo, aconselhando a classe média a não criticar ou ridicularizar nenhuma afirmação dos coleguinhas proletários.
Para os autores do guia, os alunos proletários são como certas espécies zoológicas que é necessário proteger em "habitat" adequado. E isso implica não os assustar e, logicamente, não os alimentar com doses arcaicas de conhecimento "burguês" e "reacionário".
Como é evidente, o pensamento politicamente correto das patrulhas parte de duas ideias profundamente ofensivas.
A primeira ideia é a defesa explícita de que alunos de famílias proletárias estranham e definham em ambientes eruditos. Sim, seria possível fazer uma lista de intelectuais gerados pelo proletariado --de Jack London a D.H. Lawrence-- que marcaram a história da cultura ocidental.
As patrulhas politicamente corretas não conhecem essa lista. Preferem a caricatura do filho do operário fabril que só consegue ser feliz e "autêntico" no meio da fuligem. Livros, para ele, dão soneira. Ou coceira, tanto faz.
Mas é a segunda recomendação que impressiona pela sua evidente discriminação. Para as patrulhas, sempre que um aluno proletário abre a boca, é preciso ser condescendente para escutar as alarvidades que ele diz.
A universidade não é uma universidade, com a missão de corrigir erros e procurar algum conhecimento válido para todos. A universidade é uma grande encenação --ou, melhor ainda, uma sessão coletiva de terapia onde ninguém está certo (ou errado) porque todos estão certos (ou errados).
O que o pensamento politicamente correto produz não é difícil de imaginar: a perpetuação do estigma de alunos proletários e a impossibilidade de eles aprenderem alguma coisa (na universidade) para ascenderem social e economicamente (na vida profissional).
Quando se sai da universidade exatamente como se entrou, é preciso perguntar que mecanismo de atraso explica o resultado. Ironia: o atraso é promovido por aqueles que imaginam lutar contra ele.
Depois de críticas severas da imprensa alemã, o guia da Universidade Livre de Berlim foi retirado para "reformulação". Mas ele deveria ensinar duas lições preciosas aos fanáticos do pensamento politicamente correto.
Para começar, ele ensina como é tirânico falar em nome de grupos inteiros. Porque não existem grupos inteiros. O proletariado não existe. Os negros não existem. Os gays, as mulheres, os anões não existem.
O que existe são indivíduos diversos, com histórias ou interesses diversos. Haverá proletários que não gostam de livros. Haverá proletários que não vivem sem eles.
E haverá burgueses, genuínos burgueses, para quem ler, escrever e pensar são formas medievais de tortura. Conheço vários.
A caricatura do "proletário" como um jumento apedeuta diz mais sobre as patrulhas politicamente corretas do que sobre o proletariado que elas julgam defender.
Por último, respeitar as pessoas não significa tratá-las como crianças. Ou como velhos dementes a quem sorrimos e aplaudimos sempre que eles tentam vestir as cuecas pela cabeça.
O conhecimento verdadeiro não tem cor, sexo ou classe. E, quando tem, então não é conhecimento verdadeiro.
Um guia decente para uma universidade decente só precisava de duas mensagens: "bem-vindo" e "mostra o que vales". Nada mais.
Por: João Pereira Coutinho, português, é escritor e doutor em ciência política.
Publicado no jornal Folha de São Paulo.
O conhecimento verdadeiro não tem cor, sexo ou classe. E, quando tem, então não é conhecimento verdadeiro.
O problema do pensamento politicamente correto é que ele nada tem de correto. Pior: na ânsia de impedir qualquer ofensa a grupos ou minorias, ele converte-se na mais grotesca ofensa que existe para esses grupos ou minorias.
A revista alemã "Der Spiegel" relata um caso que merece partilha: parece que a Universidade Livre de Berlim decidiu publicar um guia interno para que os alunos de famílias proletárias possam ser mais facilmente integrados na vida acadêmica. E que nos diz o guia?
Coisas sensatas. Primeiro, informa os estudantes da instituição que os coleguinhas proletários não se sentem naturalmente confortáveis em ambientes não proletários.
Mas o guia vai mais longe e exorta os alunos de classe média a gerar o ambiente ideal para que os coleguinhas proletários se sintam em casa. Como? Por exemplo, aconselhando a classe média a não criticar ou ridicularizar nenhuma afirmação dos coleguinhas proletários.
Para os autores do guia, os alunos proletários são como certas espécies zoológicas que é necessário proteger em "habitat" adequado. E isso implica não os assustar e, logicamente, não os alimentar com doses arcaicas de conhecimento "burguês" e "reacionário".
Como é evidente, o pensamento politicamente correto das patrulhas parte de duas ideias profundamente ofensivas.
A primeira ideia é a defesa explícita de que alunos de famílias proletárias estranham e definham em ambientes eruditos. Sim, seria possível fazer uma lista de intelectuais gerados pelo proletariado --de Jack London a D.H. Lawrence-- que marcaram a história da cultura ocidental.
As patrulhas politicamente corretas não conhecem essa lista. Preferem a caricatura do filho do operário fabril que só consegue ser feliz e "autêntico" no meio da fuligem. Livros, para ele, dão soneira. Ou coceira, tanto faz.
Mas é a segunda recomendação que impressiona pela sua evidente discriminação. Para as patrulhas, sempre que um aluno proletário abre a boca, é preciso ser condescendente para escutar as alarvidades que ele diz.
A universidade não é uma universidade, com a missão de corrigir erros e procurar algum conhecimento válido para todos. A universidade é uma grande encenação --ou, melhor ainda, uma sessão coletiva de terapia onde ninguém está certo (ou errado) porque todos estão certos (ou errados).
O que o pensamento politicamente correto produz não é difícil de imaginar: a perpetuação do estigma de alunos proletários e a impossibilidade de eles aprenderem alguma coisa (na universidade) para ascenderem social e economicamente (na vida profissional).
Quando se sai da universidade exatamente como se entrou, é preciso perguntar que mecanismo de atraso explica o resultado. Ironia: o atraso é promovido por aqueles que imaginam lutar contra ele.
Depois de críticas severas da imprensa alemã, o guia da Universidade Livre de Berlim foi retirado para "reformulação". Mas ele deveria ensinar duas lições preciosas aos fanáticos do pensamento politicamente correto.
Para começar, ele ensina como é tirânico falar em nome de grupos inteiros. Porque não existem grupos inteiros. O proletariado não existe. Os negros não existem. Os gays, as mulheres, os anões não existem.
O que existe são indivíduos diversos, com histórias ou interesses diversos. Haverá proletários que não gostam de livros. Haverá proletários que não vivem sem eles.
E haverá burgueses, genuínos burgueses, para quem ler, escrever e pensar são formas medievais de tortura. Conheço vários.
A caricatura do "proletário" como um jumento apedeuta diz mais sobre as patrulhas politicamente corretas do que sobre o proletariado que elas julgam defender.
Por último, respeitar as pessoas não significa tratá-las como crianças. Ou como velhos dementes a quem sorrimos e aplaudimos sempre que eles tentam vestir as cuecas pela cabeça.
O conhecimento verdadeiro não tem cor, sexo ou classe. E, quando tem, então não é conhecimento verdadeiro.
Um guia decente para uma universidade decente só precisava de duas mensagens: "bem-vindo" e "mostra o que vales". Nada mais.
Por: João Pereira Coutinho, português, é escritor e doutor em ciência política.
Publicado no jornal Folha de São Paulo.
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
Pesquisa: Quase 70% da população diz que a TV não a representa
Do Portal Vermelho
A TELEVISÃO É ASSISTIDA DIARIAMENTE POR 82% DOS BRASILEIROS, MAS 43% DA POPULAÇÃO NÃO SE RECONHECE NA PROGRAMAÇÃO DIFUNDIDA PELO VEÍCULO E 25% SE VEEM RETRATADOS NEGATIVAMENTE. APENAS 32% SE SENTEM REPRESENTADOS POSITIVAMENTE. OS DADOS SÃO DA PESQUISA DE OPINIÃO PÚBLICA DEMOCRATIZAÇÃO DA MÍDIA, LANÇADA NESTA SEXTA-FEIRA (16) PELA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO.
Para o estudo foram feitas 2,4 mil entre Pstas domiciliares em zonas rurais e urbanas de 120 municípios, entre 20 de abril e 6 de maio deste ano.
Leia também:
FPA lança pesquisa sobre “Democratização da mídia” nesta sexta
Quase um terço dos entrevistados (29%) disse que nunca vê a defesa de seus interesses na televisão, enquanto que para 55% essa defesa ocorre de vez em quando. Em relação às mulheres, 17% acha que quase sempre são tratadas com desrespeito na programação, problema que ocorre eventualmente para 47% dos entrevistados.
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=221488&id_secao=6
O tratamento dos nordestinos também recebeu avaliação semelhante, sendo que foi considerado quase sempre desrespeitoso para 19% e só às vezes para 44%. Sobre a população negra os percentuais foram de 17% e 49%, respectivamente.
De acordo com o estudo, a maioria da população (61%) acha que a TV concede mais espaço para o ponto de vista dos empresários do que dos trabalhadores (18%). Para 35% dos brasileiros, os meios de comunicação, não só a televisão, defende principalmente os interesses dos próprios donos.
Na opinião de 32%, a versão que prevalece na mídia é a dos que têm mais dinheiro e para 21% é o interesse dos políticos que é mais defendido pelos meios. Apenas 8% avaliaram que os meios de comunicação estão prioritariamente ao lado da maioria da população.
A maioria dos entrevistados (71%) é favorável a que a programação televisiva tenha mais regras. Para 16%, as regras atuais são suficientes para disciplinar o conteúdo e 10% disse que é preciso reduzir o número de normas. Na opinião de 54%, não deveriam ser exibidos conteúdos de violência ou humilhação de homossexuais ou negros.
Para 40% da população, esse tipo de programação pode ser aceita sob determinadas regras. Percentual semelhante ao humor que ridicularizam pessoas, 50% são contra a exibição desse conteúdo e 43% admite desde que normatizado.
Com Agência Brasil
Do Blog do Carlos Maia
domingo, 18 de agosto de 2013
Almodóvar, sexo
CINEMA
Influenciado pela efervescência político-cultural que tomou conta da Espanha após o fim da ditadura de Franco, o cineasta elegeu o sexo como personagem onipresente dos filmes que realizou, com destaque para aqueles lançados entre 1980 e 1987
Desde Pepi, Luci, Bom e Outras Garotas de Montão (1980) até Os Amantes Passageiros (2013), Pedro Almodóvar virou adjetivo. Quando um filme é classificado como almodovariano, é comum pensar, em um primeiro momento, na saturação das cores do cenário, na imprevisibilidade dos roteiros e no ecletismo de gêneros cinematográficos. No entanto, a característica que talvez melhor defina o conjunto da obra desse espanhol passe à tangente disso tudo: o desejo sexual como motor indispensável à existência dos personagens que ele cria, todos muito autênticos.
O sexo não é apenas sexo nos 19 filmes que Almodóvar lançou comercialmente, tampouco nos outros que rodou antes, com uma câmera super-oito, experimentos do autodidatismo. Para compreender isso, é necessário voltar no tempo, à Madri de quase 40 anos atrás, quando as obras do manchego (originário de Mancha, região central da Espanha) tinham, para além da arte enquanto arte, uma função social particular. Tudo começou com a morte do ditador Francisco Franco, em novembro de 1975, fato que fez com que a juventude espanhola, na qual se incluía o cineasta de 26 anos, tomasse para si a missão de despertar a sociedade de uma atrofia intelectual causada pelo regime opressor.
Genialmente melodramático
Embora o mais recente longa-metragem de Pedro Almodóvar, Amantes Passageiros, seja uma comédia rasgada, que marca um certo retorno do diretor a seus primeiros filmes, é impossível dissociar seu cinema de outro gênero, que mesmo em seus filmes mais engraçados se faz presente seja como referência estética ou na própria construção da trama: o melodrama
O cenário de transição política que se seguiu propiciou o surgimento de vários movimentos em Madri. O mais lembrado é a movida madrilenha, composto na maioria por jovens artistas. Bandas, cineastas, escritores, fotógrafos, pintores, entre outros ligados à arte, utilizavam a liberdade de expressão recém-conquistada da maneira que mais convinha, normalmente de forma extremamente provocativa, a fim de fazer ruir o conservadorismo espanhol. Ao lado de outros diretores, Almodóvar, assumidamente homossexual, elegeu o sexo para atacar os defensores da ditadura e representar o momento de efervescência vivido no país ibérico.
Um dos livros brasileiros que tratam sobre a importância de Almodóvar para a Espanha nesse período é Urdidura de Sigilos, cuja primeira edição saiu em 1996, com artigos de estudiosos da Universidade de São Paulo (USP). Wilson H. da Silva diz, em “No Limiar do Desejo”, que o cinema do manchego é testemunho ímpar do período pós-ditadura, pois tratou sobre assuntos proibidos pela censura. “No que diz respeito ao cinema, estavam proibidas qualquer alusão à prostituição, às ‘perversões sexuais’, ao adultério, às relações sexuais ‘ilícitas’, ao aborto. [...] Não é de se estranhar que, com a morte do ditador, uma verdadeira onda de filmes relacionados com a sexualidade [...] tenha invadido as salas espanholas.”
Onde está o sexo?
Entre os longas-metragens lançados comercialmente por Almodóvar, os seis primeiros tratam o sexo de forma mais provocativa, pela proximidade temporal com o fim da ditadura franquista e pelo envolvimento com a movida madrilenha. Nessa primeira fase, que começa com Pepi, Luci, Bom e Outras Garotas de Montão (1980) e termina com A Lei do Desejo (1987), o cineasta não podia imaginar que o sexo se tornaria uma marca que ganharia contornos mais puramente artísticos nos trabalhos seguintes. Assim, ele passou pelos anos 1990, 2000 e, em 2013, lançou aquela que considera a película mais gay da carreira, Os Amantes Passageiros.
Nessa relação com o sexo, os personagens mais emblemáticos estão na primeira fase de produção comercial do cineasta. São eles o casal lésbico sadomasoquista de Pepi, Luci, Bom...; os ninfomaníacos de Labirinto de Paixões (1982); a freira homossexual de Maus Hábitos (1983); o menino que transa com homens de Que Fiz Eu Para Merecer Isto? (1984); o ex-toureiro e a advogada que matam os parceiros sexuais de Matador (1985); e a dupla de protagonistas gays de A Lei do Desejo. A segunda fase começa com Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos (1988), o primeiro sucesso internacional do espanhol.
No artigo “A Corrosão do Relato Falocêntrico no Primeiro Longa de Almodóvar”, o organizador de Urdidura de Sigilos, Eduardo Peñuela Cañizal, explica que o cineasta buscava libertar a sociedade espanhola por meio do discurso liberal que imprimiu nos primeiros filmes que realizou. Em Pepi, Luci, Bom..., por exemplo, o espectador acompanha Luci, uma mulher madura que, depois de anos de casamento com um policial que a trata como a própria mãe, foge com Bom, uma adolescente líder de uma banda de rock, com quem mantém uma relação homossexual e sadomasoquista.
Ao contrário de outros diretores, que trabalhavam com mais sutileza, Almodóvar era quase explícito no retrato do sexo. Isto fica evidente já no primeiro filme, na cena em que Bom urina sobre Luci durante uma aula de tricô. “Almodóvar procura mecanismos de representação que se aproximem do fervilhamento pulsional e, numa constante tentativa de romper os disfarces inventados para mascarar seus efeitos, se dedica, de corpo inteiro, à tarefa de construir imagens em que sua transbordante força se faça evidente. O desejo funciona já como mola propulsora de todo tipo de mudanças”, afirma Cañizal.
A Lei do Desejo também traz cenas desafiadoras aos mais conservadores. O filme começa no set de filmagem de uma película pornográfica gay. No local, decorado como um quarto na penumbra, um jovem, apenas de cueca, obedece aos comandos de um voyeur, este último não visualizado. Conforme a câmera explora o cenário, o espectador vê dois dubladores em um pequeno estúdio, um responsável pela voz do jovem e o outro pela voz do voyeur. Ambos suam muito, como prova de que toda aquela encenação desperta neles desejos possivelmente reprimidos.
Wilson H. Silva, autor de No Limiar do Desejo, destaca essa cena de A Lei do Desejo como uma das mais provocativas da carreira de Almodóvar. Para ele, as pessoas que a assistem se sentem constrangidas e, ao mesmo tempo, excitadas, não importando se são heterossexuais ou homossexuais – como os dubladores. Trata-se, portanto, de um trecho que incomoda, desafia, transgride e leva à reflexão quanto aos próprios desejos. “Ao colocar o desejo como elemento central [...] de seu universo cinematográfico, [Almodóvar] nos permite uma leitura da sociedade a partir desse elemento geralmente menosprezado pelos estudos culturais.”
Almodóvar reconhece que os próprios filmes podem gerar rejeições do público, mas se mantém firme no propósito de valorizar o aspecto autoral. Um dos trabalhos que o manchego sabia que geraria polêmica, antes mesmo do lançamento, foi Maus Hábitos, no qual a Madre Superiora de um convento alimenta uma paixão ardente por uma cantora. “Para um público tão católico como o espanhol, é difícil que Maus Hábitos não seja escandaloso. Esse é o efeito mais previsível, e tentei não considerar isso enquanto escrevia e rodava o filme, porque queria desenvolver uma ideia pessoal”, disse ao crítico de cinema Frederic Strauss, em entrevista publicada no livro Conversas com Almodóvar (2008).
http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=1400289&tit=Almodovar-sexo
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
Agressões fazem parte da triste rotina do professor brasileiro
Violência de alunos contra docentes evidencia uma “cultura de agressão” e deixa docentes confusos quanto ao que podem fazer
No início de 2012, enquanto dava uma de suas aulas no Colégio Estadual Santa Gema Galgani, em Curitiba, o professor de Matemática Francisco Gasparin Neto foi interrompido por um aluno do ensino médio que chegou atrasado. Como sempre faz nesse tipo de situação, Neto instruiu o aluno a sair, pedir licença e entrar novamente. O fim desse diálogo terminou na delegacia. O estudante, que tinha 18 anos, se revoltou com o pedido e deu início a uma série de ofensas, feitas em alta voz e tom intimidador. O caso passou pela direção e em seguida o professor registrou um boletim de ocorrência. Depois de uma audiência de conciliação, o estudante foi obrigado a pagar cestas básicas à comunidade local. Ele foi condenado por desacato a funcionário público no exercício da função.
Diálogo entre as partes é a melhor solução
A Secretaria Municipal de Educação (SME) e a Secretaria de Estado da Educação (Seed) optam pela cautela no que diz respeito às medidas que um professor vítima de agressão deve tomar. Segundo a assessoria da SME, a orientação dada aos docentes da rede municipal é de que toda situação de violência, seja entre estudantes ou envolvendo profissionais de ensino, deve ser resolvida dentro da própria escola, a partir do diálogo.
Como a maior parte das escolas da prefeitura atendem apenas crianças até o 5.º ano do ensino fundamental – apenas 11 escolas atendem alunos do 6.º ao 9.º ano – , o volume de ocorrências de agressão contra professores tende a ser menor. Mesmo assim, quando ocorrem, o procedimento padrão é resolver a situação com os responsáveis pela pedagogia e direção. Em alguns casos as famílias são chamadas e participam na escola da tomada de decisão sobre como o estudante pode se retratar diante de sua atitude.
De acordo com a Seed, as escolas estaduais também são instruídas a resolverem os problemas internamente, e a agirem preventivamente sempre que um profissional nota o risco de violência. Tanto em caso de agressões verbais (calúnia, difamação e injúria) quanto físicas, os pais do estudante agressor são convocados e se faz o registro do ocorrido no livro ata da escola. Quando ocorre uma agressão grave, o Batalhão da Patrulha Escolar Comunitária (BPEC) pode ser acionado.
Nessas situações, o Conselho Tutelar recebe um ofício e comunica a autoridade policial para que se faça um boletim de ocorrência numa delegacia. No caso de Curitiba, que conta com estabelecimento específico, o boletim deve ser feito na Delegacia do Adolescente. Por fim, o caso será encaminhado à Vara da Infância e Juventude ou ao Ministério Público da região. A punição, em geral, são medidas sócioeducativas.
A atitude do professor Neto é uma raridade. Receber agressões verbais faz parte da rotina de muitos profissionais de educação. No entanto, confusos diante do que podem ou não fazer, a maior parte simplesmente tolera o desrespeito, ou transfere o problema à coordenação pedagógica, função que, em tese, não deveria se responsabilizar pela distribuição de broncas. “Muita coisa seria diferente se mudássemos nossa conduta, e passássemos a usar os artifícios legais contra toda a violência e desrespeito”, afirma Neto.
No mês de maio, uma pesquisa realizada pelo Instituto Data Popular e pelo Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo mostrou que a cada dez professores daquele estado, pelo menos quatro já sofreram agressões físicas ou verbais por parte de alunos. O mesmo relatório mostra ainda que 42% dos docentes já viram alunos sob efeito de drogas, e 29% testemunharam tráfico dentro da escola.
Segundo a APP-Sindicato, não há dados sobre a frequência das agressões feitas por alunos contra professores no Paraná, mas são constantes e variadas as histórias de violência compartilhadas por profissionais com seus colegas. “Seria algo muito importante se o governo promovesse uma pesquisa qualitativa e quantitativa sobre esse tipo de ocorrência”, sugere a professora Janeslei Aparecida Albuquerque, secretária de formação política e sindical da APP.
Problema histórico
Para o doutor em educação e professor da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) Joe Garcia, é necessária uma análise mais ampla, que se refere à cultura de agressão nas escolas em geral. “Em nosso país é recente a proibição da violência física contra alunos, embora seja ainda muito presente a violência simbólica”, diz.
Para Garcia, em geral, as agressões surgem de uma mentalidade que vê a violência como um instrumento legítimo para resolver conflitos, lidar com as diferenças, expressar discordância ou mesmo responder à violência que vem do outro. “Os estudantes estão reproduzindo uma lógica social que tem sido alimentada no mundo há séculos”, diz, lembrando que, em nome da educação, métodos violentos foram usados para lidar com tudo aquilo que era julgado inapropriado ou intolerável.
Fonte:Gazeta do povo
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
A homossexualidade e o cinema.
A homossexualidade e o cinema.
Esse pequeno resumo sobre a homossexualidade nas telas do cinema e a censura dos tempos passados, veio de um documentário maravilhoso que vi ontem de madrugada no canal cultura, vale à pena ler e ver como foi difícil lidar com a censura e como eram os personagens homossexuais nas décadas passadas, influenciados por diversos preconceitos da vida real, transpassados ao universo cinematográfico.
Pra quem pensa que a representação de um personagem gay, fora uma representação tardia, direi que você errou e errou feio. Para a surpresa de todos, tenho que dizer que o primeiro filme documentado da história no qual se tem um personagem ou a idéia de um personagem gay é um dos primeiros filmes a serem feitos! Esse filme foi rodado em 1895 por Thomas Edison, era um filme experimental e se chamava "The Gay Brothers", em que 2 homens dançavam ao som de um violinista.
Veja o filme abaixo:
O primeiro beijo entre dois homens foi registrado no filme "Wings", de 1927, o primeiro vencedor na história de um Oscar de Melhor Filme.
Veja a cena do beijo aqui:
Antes disso, insinuações de situações de temática gay já podiam ser encontradas em filmes de Chaplin (Behind the Screen, 1916) ou em alguns curtas de O Gordo e o Magro, que diga-se de passagem, sempre foram um "suposto casal homossexual".
De uma forma geral, porém, o registro dominante era somente um: se um homem tivesse trejeitos femininos ou se ele ousasse vestir-se de mulher, o único efeito que se poderia esperar era o da comédia, então a partir desse momento esses personagens eram chamados de "afeminados" e eles tinham apenas uma função, a parte cômica de um filme. O homossexual pressupunha e representava do alívio dramático e nada além. Ainda assim, havia espaço para algumas notáveis exceções, como a famosa cena de "Marrocos" (1930) em que a cantora personagem de Marlene Dietrich aparece em um smoking totalmente masculino, elegante e sem jamais perder o efeito de femme fatale, e num movimento inesperado beija suavemente uma das mulheres na platéia, num ato claramente provocante para homens e mulheres nas poltronas dos cinemas, e a intenção era está mesma, seduzir ambos o público.
Veja essa cena MARAVILHOSA abaixo:
Para mim essa cena é uma das cenas mais sexy que eu ja vi no cinema!
Porém a liberdade artística da época foi drasticamente mudada em meados dos anos 40,
O Código de Hays, um documento que listava o que o bom costume e a família não deveriam assistir nas telas, não teve um início particularmente forte: foi adotado pela MPAA (Motion Picture Association of America) em 1930, mas somente a partir de 1934 foi aplicado severamente. Com a adesão da Igreja Católica, que também criara um código para os seus seguidores e, no final dos anos 1930, já ameaçava estimular boicotes a filmes, os produtores de Hollywood, prevendo terríveis prejuízos, passaram a adaptar seus filmes a essas regras, que foram, também, um dos alicerces de censura midiática do Macartismo.
O Código de Hays condenava nos filmes situações que envolvessem beijos de língua, cenas de sexo, sedução, estupro, aborto, prostituição, escravidão (de brancos), nudez, aborto, obscenidade e profanação. O termo homossexual, ainda que não citado, provavelmente se encaixava nesta última proibição. E, como se pode notar, a violência não era censurada em suas diversas encarnações possíveis. O código foi seguido fielmente pela grande maioria dos filmes produzidos em Hollywood até 1968, quando a MPAA criou o seu novo termo de conduta e censura, com bases muito similares ao anterior, e usado até hoje. Filmes que envolvem situações sexuais ainda são mais censurados do que filmes ultraviolentos e aqueles que envolvem relacionamentos homossexuais certamente um tanto mais.
À época, as proibições instituídas pelo código tiveram efeito pior do que banir o personagem homossexual do cinema; elas mudaram a sua representação, instituindo apenas a possibilidade de 2 papéis: a de antagonista naturalmente perverso ou a de personagem trágico. Ou seja, era como um lembrete de que ser gay era errado, os personagens na sua maioria ou eram depressivos e se matavam no fim de seus filmes, ou eram criminosos de baixo caráter. No caso das mulheres homossexuais, elas eram representadas por mulheres sem feminilidade nenhuma, em sua maioria delinquentes e presidiárias, servindo também como um lembrete para as garotas de que se elas seguissem aquele caminho, esse seria o seu fim trágico.
A galeria de vilões de clara, porém jamais aberta, orientação homossexual é extensa. Em "Festim Diabólico" (1948), obra-prima de Alfred Hitchcock, a dupla de assassinos que desafia o personagem de James Stewart em um jogo psicológico é carregada de desejo homoerótico. Os vilões de muitos filmes do agente 007, como foi brilhantemente dissecado por Umberto Eco em seus ensaios, são em sua maior parte gays naturalmente malévolos ou dotados de uma incurável mania de grandeza.
Festim diabólico - Alfred Hitchcock, 1948
Mais grave e danosa do que esta representação, porém, foi a idéia de que o destino do personagem gay deveria ser sempre trágico, fosse pela falência de suas ambições dentro do universo narrativo ou pelo proibido do seu desejo. Como não esquecer a emocionante cena final de "Juventude Transviada" (1955), de Nicholas Ray, em que o personagem de Sal Mineo, apaixonado pelo de James Dean, comete o sacrifício final para salvar o amigo? Ou a cena em que a governanta da personagem-título de "Rebecca, A Mulher Inesquecível", também de Hitchcock, manifesta sutilmente ao abraçar um casaco o desejo que sentia por ela? Este último caso revela também o quanto Hollywood era severa com personagens homossexuais femininos, retratando-nas freqüentemente como megeras sem coração.
Mas do lado de cá do oceano, o destino trágico continuava sendo a regra para o personagem homossexual. Em "Crimes Sem Perdão" (1968), Frank Sinatra interpretava um detetive que investigava mortes de homossexuais.
Mas se a primeira metade da década de 90 ainda não tinha observado mudanças sensíveis no tratamento do personagem homossexual, ela ao menos permitiu intensificar o volume desses personagens, principalmente o feminino, observado com destaque em "Thelma e Louise" (1991), de Riddley Scott, e em "Tomates Verdes Fritos" (1991), de Jon Avnet, ambos com finais trágicos. Havia, porém, uma geração de cineastas que cresceu com acesso à produção independente da década de 70 e ao cinema europeu, livres de estereótipos. Com isso, provavelmente assistiram às produções de John Waters com o travesti Divine, notadamente os brilhantes "Pink Flamingos" (1972) e "Female Trouble" (1974), além de filmes de muitos outros diretores do underground da época, como o ícone "The Rocky Horror Picture Show" (1975).
O cinema nos últimos anos
O resultado é facilmente observado em uma pesquisa no IMDB (www.imdb.com), maior banco de dados de cinema do mundo, sobre filmes que contenham alguma temática gay. Dos mais de 4.200 filmes listados, apenas 1.000 foram produzidos anteriormente a 1996. Todos os restantes datam deste ano até 2011. Foi na década de 90 que o premiado diretor Gus Van Sant ganhou reconhecimento com "Garotos de Programa" (1991) em que abordava o relacionamento entre 2 deles. Ou que o fenômeno australiano "Priscila - A Rainha do Deserto" (1994), mesmo com todos os seus estereótipos, conseguiu apresentar travestis a uma audiência ampla pela primeira vez na história do cinema.
Essas primeiras conquistas ecoaram pelos anos 2000, que observou um verdadeiro boom na produção de filmes de temática gay. Pela primeira vez, em mais de 100 anos de cinema, o personagem homossexual foi representado em todas as suas complexidades. E deixou de ser o personagem para se tornar os personagens. Um garoto que descobre a sua própria sexualidade pode, por exemplo, encontrar ecos e questões relevantes no belo filme inglês "Delicada Atração" (1996), no divertido alemão "Tempestade de Verão" (2004) ou no emocionante filme tailandês "The Love of Siam" (2007). Por outro lado, aqueles que procuram o lado sócio-político do tema encontram diversos ângulos: o político do grande "Milk" (2008), de Gus Van Sant, o religioso no brilhante e corajoso documentário "For The Bible Tells Me So" (2007), sobre como famílias católicas ou protestantes lidam com filhos e filhas homossexuais, ou o comportamental de "Kinsey" (2004) que expôs a uma grande audiência as descobertas do doutor Alfred Kinsey sobre a complexidade da sexualidade humana.
Se os critérios forem severos, podemos afirmar que o mundo tem apenas uma década e meia de produção de filmes a respeito dos mais diversos aspectos que envolvem a homossexualidade. O espaço de tempo é curto e certamente ainda há muito o que desenvolver no que diz respeito aos filmes de gênero e às complexidades de personagens gays. Se a nossa relação com o cinema pressupõe um diálogo que contribui na nossa formação, essa produção frequente torna-se ainda mais necessária. Não se pode esquecer que, em 2006, "O Segredo de Brokeback Mountain", o filme mais sério a respeito da temática a conquistar um grande público, inexplicavelmente perdeu o Oscar de Melhor Filme, após ter levado as 2 estatuetas que definem uma grande produção (a de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Direção), para o inócuo "Crash".
Uma década e meia de conquistas não apaga do inconsciente coletivo 100 anos de repressão. A mudança apenas começou.
Créditos e fonte: Fábio Silveira Adaptação e pesquisa de imagem e vídeo: Tatiana Gadani
Pra quem pensa que a representação de um personagem gay, fora uma representação tardia, direi que você errou e errou feio. Para a surpresa de todos, tenho que dizer que o primeiro filme documentado da história no qual se tem um personagem ou a idéia de um personagem gay é um dos primeiros filmes a serem feitos! Esse filme foi rodado em 1895 por Thomas Edison, era um filme experimental e se chamava "The Gay Brothers", em que 2 homens dançavam ao som de um violinista.
Veja o filme abaixo:
O primeiro beijo entre dois homens foi registrado no filme "Wings", de 1927, o primeiro vencedor na história de um Oscar de Melhor Filme.
Veja a cena do beijo aqui:
Antes disso, insinuações de situações de temática gay já podiam ser encontradas em filmes de Chaplin (Behind the Screen, 1916) ou em alguns curtas de O Gordo e o Magro, que diga-se de passagem, sempre foram um "suposto casal homossexual".
O gordo e o magro
Veja essa cena MARAVILHOSA abaixo:
Porém a liberdade artística da época foi drasticamente mudada em meados dos anos 40,
O Código de Hays, um documento que listava o que o bom costume e a família não deveriam assistir nas telas, não teve um início particularmente forte: foi adotado pela MPAA (Motion Picture Association of America) em 1930, mas somente a partir de 1934 foi aplicado severamente. Com a adesão da Igreja Católica, que também criara um código para os seus seguidores e, no final dos anos 1930, já ameaçava estimular boicotes a filmes, os produtores de Hollywood, prevendo terríveis prejuízos, passaram a adaptar seus filmes a essas regras, que foram, também, um dos alicerces de censura midiática do Macartismo.
O Código de Hays condenava nos filmes situações que envolvessem beijos de língua, cenas de sexo, sedução, estupro, aborto, prostituição, escravidão (de brancos), nudez, aborto, obscenidade e profanação. O termo homossexual, ainda que não citado, provavelmente se encaixava nesta última proibição. E, como se pode notar, a violência não era censurada em suas diversas encarnações possíveis. O código foi seguido fielmente pela grande maioria dos filmes produzidos em Hollywood até 1968, quando a MPAA criou o seu novo termo de conduta e censura, com bases muito similares ao anterior, e usado até hoje. Filmes que envolvem situações sexuais ainda são mais censurados do que filmes ultraviolentos e aqueles que envolvem relacionamentos homossexuais certamente um tanto mais.
À época, as proibições instituídas pelo código tiveram efeito pior do que banir o personagem homossexual do cinema; elas mudaram a sua representação, instituindo apenas a possibilidade de 2 papéis: a de antagonista naturalmente perverso ou a de personagem trágico. Ou seja, era como um lembrete de que ser gay era errado, os personagens na sua maioria ou eram depressivos e se matavam no fim de seus filmes, ou eram criminosos de baixo caráter. No caso das mulheres homossexuais, elas eram representadas por mulheres sem feminilidade nenhuma, em sua maioria delinquentes e presidiárias, servindo também como um lembrete para as garotas de que se elas seguissem aquele caminho, esse seria o seu fim trágico.
A galeria de vilões de clara, porém jamais aberta, orientação homossexual é extensa. Em "Festim Diabólico" (1948), obra-prima de Alfred Hitchcock, a dupla de assassinos que desafia o personagem de James Stewart em um jogo psicológico é carregada de desejo homoerótico. Os vilões de muitos filmes do agente 007, como foi brilhantemente dissecado por Umberto Eco em seus ensaios, são em sua maior parte gays naturalmente malévolos ou dotados de uma incurável mania de grandeza.
Festim diabólico - Alfred Hitchcock, 1948
Mais grave e danosa do que esta representação, porém, foi a idéia de que o destino do personagem gay deveria ser sempre trágico, fosse pela falência de suas ambições dentro do universo narrativo ou pelo proibido do seu desejo. Como não esquecer a emocionante cena final de "Juventude Transviada" (1955), de Nicholas Ray, em que o personagem de Sal Mineo, apaixonado pelo de James Dean, comete o sacrifício final para salvar o amigo? Ou a cena em que a governanta da personagem-título de "Rebecca, A Mulher Inesquecível", também de Hitchcock, manifesta sutilmente ao abraçar um casaco o desejo que sentia por ela? Este último caso revela também o quanto Hollywood era severa com personagens homossexuais femininos, retratando-nas freqüentemente como megeras sem coração.
Juventude Transviada - 1955
Rebecca - 1940
Elizabeth Taylor, por sua vez, protagonizou 2 adaptações bem-sucedidas de peças de Tennessee Williams ao cinema que tratavam o tema homossexual de forma parecida: "Gata em Teto de Zinco Quente" (1958) mostrava Paul Newman como um ex-jogador (não abertamente) homossexual frustrado e alcoólatra, e "De Repente, No Último Verão" (1959) em que a personagem de Taylor sofreu o terrível trauma de assistir o seu primo, homossexual, ser linchado enquanto passavam férias num vilarejo espanhol. A cena que descrevia esse linchamento foi filmada de forma idêntica à observada em "Noiva de Frankenstein" (1934) e a mensagem era uma só: se viveram como monstros, deveriam morrer como monstros.
Gata em Teto de Zinco Quente
Qualquer cena ou argumento que tratasse o personagem gay de forma aberta estava destinada a alguma censura, fosse da MPAA ou dos próprios produtores/cineastas. Dessa forma, um romance sobre um escritor alcoólatra e sexualmente confuso ("Farrapo Humano", 1945) virou um filme sobre um escritor alcoólatra com bloqueio. Outro romance, sobre ataques a homossexuais e assassinato se tornou um filme sobre antissemitismo e assassinato ("Rancor", 1947). Uma cena de "Spartacus" (1960), em que há uma relação de erotismo entre 2 homens, tão comum e popularmente conhecida como típica da Roma e Grécia Antigas, e um diálogo sugestivo foi cortada da versão final, mas recolocada na versão restaurada em 1990.
A fala era essa a seguir:
"Você considera comer ostras moral e comer caracóis imoral?
"Você considera comer ostras moral e comer caracóis imoral?
-É uma questão de gosto, não? E gosto não é o mesmo que apetite...
-Portanto, a questão não é moral, certo?
Meu gosto inclui caracóis e ostras."
O mesmo, por outro lado, não acontecera um ano antes com a antológica cena final de "Quanto Mais Quente Melhor" (1959): ou seja, se o romance gay fosse sugerido como real não era tolerado, se fosse para efeito cômico, aí continuava não havendo problema.
Quanto mais quente melhor
Os primeiros sinais de mudança vieram do outro lado do oceano, principalmente do cinema inglês, que na década de 1960 começou a tratar da temática homossexual de forma aberta. Em 1961, "Meu Passado Me Condena" trazia Dirk Bogarde no papel de um advogado homossexual que decide processar um chantagista que ameaça expor a vida secreta de alguns homens ao mundo. Foi uma das primeiras vezes em que o termo homossexual era usado em um filme.Mas do lado de cá do oceano, o destino trágico continuava sendo a regra para o personagem homossexual. Em "Crimes Sem Perdão" (1968), Frank Sinatra interpretava um detetive que investigava mortes de homossexuais.
Crimes Sem Perdão
Em 1980, William Friedkin faria "Parceiros da Noite", em que o personagem de Al Pacino era um detetive infiltrado no "submundo gay". Poucos filmes foram tão eficazes em reforçar estereótipos negativos.
Parceiros da Noite
E nesta mesma década, Hollywood teria uma tragédia real para aplicar aos seus personagens gays: surgiram aqueles cujo destino estava selado por terem contraído AIDS. O representante máximo desse modelo talvez tenha sido o personagem de Tom Hanks em "Filadélfia" (1993), que lhe garantiu um Oscar (e um exemplo de papel a ser premiado num filme para tantos outros atores e atrizes que o repetiram).
Tom Hanks em "Filadélfia"
Mas se a primeira metade da década de 90 ainda não tinha observado mudanças sensíveis no tratamento do personagem homossexual, ela ao menos permitiu intensificar o volume desses personagens, principalmente o feminino, observado com destaque em "Thelma e Louise" (1991), de Riddley Scott, e em "Tomates Verdes Fritos" (1991), de Jon Avnet, ambos com finais trágicos. Havia, porém, uma geração de cineastas que cresceu com acesso à produção independente da década de 70 e ao cinema europeu, livres de estereótipos. Com isso, provavelmente assistiram às produções de John Waters com o travesti Divine, notadamente os brilhantes "Pink Flamingos" (1972) e "Female Trouble" (1974), além de filmes de muitos outros diretores do underground da época, como o ícone "The Rocky Horror Picture Show" (1975).
The Rocky Horror Picture Show
O resultado é facilmente observado em uma pesquisa no IMDB (www.imdb.com), maior banco de dados de cinema do mundo, sobre filmes que contenham alguma temática gay. Dos mais de 4.200 filmes listados, apenas 1.000 foram produzidos anteriormente a 1996. Todos os restantes datam deste ano até 2011. Foi na década de 90 que o premiado diretor Gus Van Sant ganhou reconhecimento com "Garotos de Programa" (1991) em que abordava o relacionamento entre 2 deles. Ou que o fenômeno australiano "Priscila - A Rainha do Deserto" (1994), mesmo com todos os seus estereótipos, conseguiu apresentar travestis a uma audiência ampla pela primeira vez na história do cinema.
Essas primeiras conquistas ecoaram pelos anos 2000, que observou um verdadeiro boom na produção de filmes de temática gay. Pela primeira vez, em mais de 100 anos de cinema, o personagem homossexual foi representado em todas as suas complexidades. E deixou de ser o personagem para se tornar os personagens. Um garoto que descobre a sua própria sexualidade pode, por exemplo, encontrar ecos e questões relevantes no belo filme inglês "Delicada Atração" (1996), no divertido alemão "Tempestade de Verão" (2004) ou no emocionante filme tailandês "The Love of Siam" (2007). Por outro lado, aqueles que procuram o lado sócio-político do tema encontram diversos ângulos: o político do grande "Milk" (2008), de Gus Van Sant, o religioso no brilhante e corajoso documentário "For The Bible Tells Me So" (2007), sobre como famílias católicas ou protestantes lidam com filhos e filhas homossexuais, ou o comportamental de "Kinsey" (2004) que expôs a uma grande audiência as descobertas do doutor Alfred Kinsey sobre a complexidade da sexualidade humana.
Milk - A voz da igualdade.
Se os critérios forem severos, podemos afirmar que o mundo tem apenas uma década e meia de produção de filmes a respeito dos mais diversos aspectos que envolvem a homossexualidade. O espaço de tempo é curto e certamente ainda há muito o que desenvolver no que diz respeito aos filmes de gênero e às complexidades de personagens gays. Se a nossa relação com o cinema pressupõe um diálogo que contribui na nossa formação, essa produção frequente torna-se ainda mais necessária. Não se pode esquecer que, em 2006, "O Segredo de Brokeback Mountain", o filme mais sério a respeito da temática a conquistar um grande público, inexplicavelmente perdeu o Oscar de Melhor Filme, após ter levado as 2 estatuetas que definem uma grande produção (a de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Direção), para o inócuo "Crash".
Uma década e meia de conquistas não apaga do inconsciente coletivo 100 anos de repressão. A mudança apenas começou.
Créditos e fonte: Fábio Silveira Adaptação e pesquisa de imagem e vídeo: Tatiana Gadani
sábado, 10 de agosto de 2013
Fotografia: a escravidão moderna que fingimos não ver
Projeto fotográfico tocante registra a escravidão moderna que fingimos não ver
Jaque Barbosa, Hypeness
Facilmente caímos na tentação de pensar que a nossa liberdade e direitos são coisa garantida, esquecendo que há pessoas para quem isso não passa de um sonho. Lisa Kristine pôs o dedo na ferida de forma extraordinária: documentando a escravidão moderna, aquela que fingimos não saber que existe.
A ativista está há 28 anos retratando culturas indígenas ao redor do mundo, mas foi em 2009 que ‘acordou’ para o problema da escravidão dos nossos dias. A estimativa de que existem mais de 27 milhões de pessoas escravizadas e a sua falta de conhecimento sobre o tema a envergonhavam.
Assim começou sua jornada, que acabou em Modern Day Slavery, uma série cativante e ao mesmo tempo dolorosa. Seja um mineiro no Congo ou um trabalhador de olaria no Nepal, a escravidão existe e tem rostos. Lisa foi conhecê-los.
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Na sua intervenção na conferência TED, em janeiro de 2012, a fotógrafa deixa o alerta, com episódios e imagens impressionantes
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