se perdendo por falta de fiscalização
Um dos sambaquis da baía de Guaratuba, localizado na margem do Rio das Laranjeiras, parece ir por esse caminho. Pescadores da região desmataram a vegetação que cresce em cima do acumulado de material orgânico e construíram uma cabana. Por causa disso, a erosão faz com que artefatos indígenas e ossos de milhares de anos atrás sejam perdidos pela ação da maré.
Samba... o quê?
Saiba mais sobre os sambaquis, que se espalham por todos os municípios da costa paranaense
Cemitério
Boa parte dos sambaquis era usada como cemitério. Até hoje é possível encontrar ossadas humanas nos amontoados. Há também ossos de animais usados para alimentação nos rituais de sepultamento. Alguns ossos impressionam pela coloração vermelha. “Certos grupos sambaquieiros pintavam a pele de vermelho e a cor migrou para os ossos”, explica a arqueóloga Cláudia Inês Parellada. O maior “cemitério” está no Sambaqui de Guaraguaçu, em Pontal do Paraná, o o único tombado como Patrimônio Histórico. É possível agendar visitas pelo telefone (41) 3975-3102.
Habitação
Alguns sambaquis funcionavam como habitação. Os povos viviam principalmente em baías ou na beira de rios, mas também há registros dentro do continente.
Adubo
Todo o material orgânico enterrado tornou-se um potente adubo para a vegetação que cresce por cima – e que ajuda a evitar a erosão.
Alimentação
Os povos pré-históricos se alimentavam de vegetais, peixes e animais. Apesar do grande número de conchas nos sambaquis, é provável que eles não comessem moluscos, por ser uma dieta de alta toxidade.
Mistério
Explicações sobre esses grandes amontoados de conchas são só hipóteses. “Um sambaqui para um arqueólogo é um quebra-cabeça de mil peças. E ainda falta um monte de peças”, diz Cláudia.
Integrantes da ONG ambiental Instituto Guaju fizeram denúncias sobre a situação aos órgãos responsáveis. A Polícia Ambiental chegou a desmontar a cabana duas vezes, mas ela voltou a ser construída logo depois. Impotentes, eles decidiram recolher os materiais mais aparentes, que corriam risco de serem levados pelas águas.
Então, pediram a uma especialista em Patrimônio Histórico para catalogar e armazenar essas relíquias de maneira correta, para em seguida encaminhá-los ao Instituto do Patrimônio e Artístico Nacional (Iphan). “Entramos várias vezes em contato com o Iphan para eles se envolverem, mas não temos muito retorno”, afirma Fabiano Cecílio da Silva, diretor executivo da ONG.
Estrago histórico
A destruição dos sambaquis paranaenses vem de longa data, segundo a arqueóloga Cláudia Inês Parellada, do Museu Paranaense, que possui acervo com itens dos povos sambaquieiros em exposição permanente. O material encontrado nos sambaquis chegou a ser usado como matéria-prima para fabricar cal de pavimento para ruas e estradas do Brasil colonial.
As primeiras leis de proteção estaduais e federais vieram apenas em 1950. “Há uma grande dificuldade de fiscalizar esses espaços. Alguns ainda não têm identificação e são muitos para monitorar”, conta Cláudia. O trabalho de fiscalização é feito pelo Iphan, a partir de denúncias.
“É necessária também a ajuda da comunidade”, aponta a arqueóloga. Ela ressalta que os sambaquis fazem parte da riqueza histórica do estado e que pode nos ajudar a compreender melhor o passado e a maneira como as populações antigas usavam o meio ambiente.
Os sambaquis também são alvo de pessoas mais, digamos, sonhadoras, que procuram tesouros escondidos. “Estamos falando de indivíduos pré-históricos, que viviam há milhares de anos. Nessa época não havia fundição de metal. Só dá pra encontrar osso, concha e pedra mesmo”, avisa.
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