quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A mídia fatofóbica e a linda secretária de 'Pepe' Mujica

O que Pepe Mujica tem a ver com o fato de uma funcionária do Estado uruguaio ser linda e ter posado nua em uma revista argentina? Nada. Mas para a mídia a suposição vale mais que os fatos.

       O presidente do Uruguai, ‘Pepe’ Mujica, é conhecido mundialmente pelo seu estilo de vida austero e pela defesa da legalização da maconha.  Ganhou até a alcunha de “presidente pobre”. Existe realmente um grande esforço para ridiculariza-lo, colocar nele a pecha de estranho, peculiar, pitoresco. Concordando ou discordando politicamente de ‘Pepe’, não se trata de um “maluco” que por acaso venceu as eleições para a presidência do Uruguai.

      Esta semana, Mujica ganhou as manchetes mundiais, não pelas suas “esquisitices”, e sim pela beleza de uma das funcionárias do Estado uruguaio, a secretária e dançarina Fabiana Leis. Dona de uma beleza incomum, Fabiana Leis se divide numa jornada dupla, entre o Palácio Estévez, onde é secretária, e a cidade de Punta del Leste, onde é dançarina. São duzentos e oitenta quilômetros percorridos diariamente para manter as duas profissões.

      Recentemente Fabiana posou nua para uma revista argentina e o fato ganhou repercussão mundial. Mas o que Mujica tem a ver com isso? É uma pergunta interessante, que as manchetes ignoram. As chamadas da mídia corporativa vão desde “O presidente mais pobre tem a secretária mais sexy” até “Quem é Fabiana Leis, a secretária ‘hot’ de Pepe Mujica?”.

       As matérias, tanto brasileiras quanto gringas, dão voz a um senso comum antiquíssimo: a secretária é sempre amante do patrão. Alguns jornalistas descem mais baixo, tentam ainda demonstrar uma contradição política do presidente, que se diz austero, mas na verdade “ostenta” uma secretária “hot” (sic). Os comentários das matérias vão do machismo misógino a xenofobia mais rastaquera, completando o festival de preconceito e asneiras gratuitas tão caras a nossa mídia fatofóbica. A mulher nunca é competente, ela apenas sobe graças aos dotes físicos e as benesses sexuais concedidas ao seu superior. Naturalmente um homem.

         Mas atenhamo-nos aos fatos, como deveriam fazer os jornalistas. Em primeiro lugar, Fabiana é funcionária pública concursada desde 2002, portanto, antes da eleição que deu posse a Mujica, o que indica que ela não tem nenhuma espécie de apadrinhamento do presidente pobre. Em segundo lugar, ela trabalha diariamente em um prédio ao lado do gabinete do presidente, ou seja, ela não é secretária de Mujica, e sim do Estado uruguaio. Não há nada que evidencie um relacionamento “fora dos padrões” entre o presidente e a bela secretária, a não ser o clichê: um homem com poder e uma mulher bonita é igual a sexo selvagem feito às escondidas num escritório escuro e quente.

           O medo, verdadeira fobia, que a grande imprensa tem dos fatos é justificado. Se eles viessem sempre à tona, a maioria das manchetes ficariam vazias e inexpressivas.

** Esse conteúdo expressa a opinião do próprio autor, e não necessariamente do portal Rede Reflexão
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